Opinião – Diz-me o que quero ouvir

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Francisco Queirós

Francisco Queirós

 

O governo encontra-se em gestão desde 10 de Novembro, o dia em que uma maioria de deputados votou favoravelmente a rejeição do seu programa. De acordo com a Constituição da República cabe agora ao Presidente encontrar a solução governativa, ou seja, cumprir o estipulado no artigo 187.º, “O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais.”. Nada impede o Presidente de convocar o Conselho de Estado que por definição é o “órgão político de consulta do Presidente da República.” ou ouvir quem mais entenda, entidades, personalidades, amigos, familiares, a esposa. O país é que não pode ficar à espera. Cavaco optou de facto por ouvir um vasto conjunto de amigos. Cavaco chamou a Belém organizações sindicais e empresariais, banqueiros. Veremos quem mais será convocado.
Há conselheiros diversos, mas sobretudo há-os muito semelhantes. Parece que Cavaco pediu os conselhos que queria ouvir. Ninguém no país conhecia a Associação dos Empresários Familiares. Por certo andamos todos distraídos. A associação reúne os empresários das melhores famílias. Consulte-se a página electrónica, o “sítio” da AEF e nada surpreende. Os órgãos sociais integram, além de um membro do governo, nomes sonantes das famílias empresariais portuguesas, dos Mello aos Amorim e muitos mais. Distraídos estavam por ventura muitos dos portugueses que desconheciam o “peso” dos empresários familiares. A informação colocada na página oficial não deixa margem para dúvidas. Os associados facturavam, em 2007, 11,9 mil milhões de euros. E que conselhos deram os familiares das empresas ao chefe do Estado? Peter Villax, presidente da direcção, foi cristalino e veemente na condenação de uma qualquer possibilidade de constituição de um governo com apoios do PCP e do BE. Foi isso que Cavaco ouviu da sua boca. Isso e talvez muito mais. Afinal, Peter Pál de Lancastre Honssemayne du Boulay Villax, patrão dos empresários de boas famílias, não engana ninguém. Teria Villax repetido a Cavaco o que pensa dos portugueses, como expressou em entrevista publicada? “Os portugueses gostam de trabalhar pouco. Nós por questões religiosas não gostamos de trabalhar. O trabalho foi castigo por Adão e Eva terem cometido pecado.” Ou terá Villax aconselhado Cavaco a que recomende a um futuro governo a “baixa da taxa mínima de IRS de accionistas em 1% por cada 250 empregos novos”? Talvez!
Cavaco ouve quem quer! E Cavaco sabe muito bem quem quer e gosta de ouvir…Mas Cavaco, Presidente da República Portuguesa, jurou cumprir e fazer cumprir a Constituição da República. Esse é o grande e único conselho que lhe damos.

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