Opinião – Presidenciais

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PAULO ALMEIDA

 

No momento em que escrevo, não sei se Cavaco Silva já se dirigiu aos portugueses e anunciou quem vai nomear como Primeiro-Ministro de Portugal. Do que nos é dado a conhecer, quem quer que seja, não vai ter tarefa fácil.
Se for Passos Coelho, deve cumprir o acordo que tem firmado com o CDS, e com este partido vai formar governo, propondo-o ao Presidente da República. Se de algum modo o PS quiser, o governo fica estável e os portugueses agradecem. Como, aliás, sempre aconteceu até hoje com os governos sem maioria absoluta parlamentar, do PS ou da direita. Mas se o PS mantiver, como tudo parece indicar, um rumo extremista, então o novo governo PSD/CDS vai sofrer no Parlamento.
Vai sofrer logo quando submeter o seu programa de governo à apreciação da Assembleia da República, através de uma declaração do Primeiro-Ministro, o que terá de ser feito no prazo máximo de dez dias após a sua nomeação. Já está anunciado que há grupos parlamentares que irão propôr a rejeição de tal programa e, se a maioria dos Deputados votar favoravelmente tal rejeição, a demissão do governo é inevitável. Jerónimo de Sousa disse-o há dias com clareza: «apresentaremos uma moção de rejeição do programa de um [eventual] governo PSD/CDS».
António Costa acredita que, nesse caso, o Presidente da República o vai nomear Primeiro-Ministro. Vamos imaginar que sim, for the sake of argument. Tendo António Costa prometido “lá fora” (para cá dentro ser ouvido) que a União Económica e Monetária, o Tratado Orçamental e défice abaixo dos 3% não vão estar em causa com o seu governo, não vai conseguir chegar a acordo com a esquerda que reclama, e citando novamente Jerónimo de Sousa: «estamos preparados e prontos para assumir todas as responsabilidades, incluindo governativas, necessárias à concretização de uma política que rompa com o rumo que arrastou o País para a actual situação».
Já se tornou demasiado óbvio que PCP e BE desejam ardentemente ver António Costa como Primeiro-Ministro só para poder demonstrar que são efectivamente diferentes do PS, com o bónus de poderem competir entre eles para ver quem grita mais alto pelo fim da austeridade. Vai ser um jogo de “tiro ao boneco” para os aliviar da frustração que tem sido de pouco ou nada lhes ter valido dizerem que são diferentes da direita, à direita do PS. PCP e BE, para crescerem em votos, sempre tentaram enfiar o PS no bloco da direita, tentando marcar as diferenças. Agora, o PS foi-se enfiar na boca do lobo, foi jogar no campo do adversário, que agradece. Vai ser uma luta renhida entre PCP e BE para exibir aos portugueses que são mesmo diferentes do PS, a explicar que é por sua causa, e não do parceiro do lado, que o Orçamento “de direita, do PS” não é aprovado. É uma realidade que espero não ter de assistir. Seria um preço elevadíssimo para que António Costa possa dizer que um dia foi Primeiro-Ministro de Portugal.
Qualquer que seja a solução que venha a ser encontrada, parece quase certo que o país vai estar em turbulência por uns tempos. Num caso, por causa de António Costa. No outro, por culpa de António Costa, PCP e BE. No fim de contas, tudo parece ser possível porque, entretanto, é vedado ao Presidente da República dissolver a Assembleia. Se assim não fosse, já ninguém ligava ao que António Costa diz. É, por isso, muito importante que os portugueses sejam esclarecidos pelos actuais candidatos a Presidente da República sobre o que farão quando um deles ganhar as eleições. Também já devem ter pensado todos os cenários.

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