Opinião: Orçamentos, há muitos. Verticalidade, nem por isso…

Posted by

Apesar dos portugueses se afastarem cada vez mais da política, continuam a ocorrer atos pouco dignos, por parte de alguns políticos. Vejamos aspetos menores relativos à aprovação de dois orçamentos, um nacional e outro local, e de casos tristes que causaram algum alvoroço por aqui.

Para o Orçamento de Estado ser aprovado na generalidade, o governo negociou a abstenção com a extrema-esquerda… e com o governo regional da Madeira. Pelo que os deputados madeirenses se abstiveram, contrariando o PSD nacional. E o OE será aprovado na especialidade, apesar das encenações sindicais do PCP, das já usuais farsas regimentais do BE, e da histeria do governo quanto à descida do IVA na eletricidade, que, para o PS, e para o PAN, não é um bem essencial!

Em Coimbra, o PS conseguiu fazer aprovar orçamento e grandes opções do plano (O&GOP´s). Sem surpresa, o “amparo da cidade” absteve-se. E foi também sem surpresa, que uma certa edil repetiu a atitude de outubro, em que contrariou o PSD local, que lhe retirou a confiança política, por nada mais poder fazer. Surpresa (?), poderá ter havido na Assembleia Municipal em que três autarcas laranjas viabilizaram O&GOP´s, enquanto três deputados municipais do PSD votaram contra. Afinal, em que ficamos? Estes instrumentos servem, ou não, os interesses de Coimbra?

Há pontos similares nestes casos políticos. O da aparente deslealdade política de alguns eleitos em listas social-democratas. E os êxitos socialistas nas negociatas com representantes de outras forças partidárias, que, sabe-se lá em troca de quê, esqueceram princípios éticos que os deviam ligar aos que neles confiaram. Não está em causa a honradez dos envolvidos, mas o desplante com que certos políticos de pacotilha mudam de campo, e fazem o jogo de partidos adversários.

Este indigno comportamento atinge qualquer partido político, e não é recente; bastará recordar a saga do PS guterrista com o afamado “queijo limiano” do CDS. Mas não é por o caso ser global, e antigo, que é desculpável. Já é tempo de os políticos, e de os partidos que os enquadram, se regerem por princípios éticos, e por regras democráticas que respeitem a vontade daqueles que os elegerem.

É que, como apenas votamos em partidos, e não nos políticos que os corporizam, julgamos que todos os que forem eleitos, incluindo os ditos independentes, acolhidos por alguns partidos, cumprirão os seus programas políticos. Se um dia a Constituição permitir que votemos em pessoas, e em partidos políticos, será tudo diferente. Os eleitos nominalmente serão mesmo independentes, e votarão, em cada situação e momento, como entenderem. Os votantes, saberão o que poderá acontecer. E os partidos terão dificuldade em atrair quem for mesmo independente.

Como hoje não é assim, quando vereadores e deputados contrariam orientações estratégicas dos partidos políticos que representam, e estes lhes retiram a confiança política, o que daqueles se espera, é que tenham a verticalidade de se demitirem, para poderem ser substituídos por outros, constantes das listas apresentadas a sufrágio universal por tais partidos.

É que, em política, não deveria valer tudo! E se deputados e autarcas devem expressar livremente os seus pensamentos, para enriquecerem a análise do que estiver em discussão pública, quando a disciplina de voto for imposta, quem não a acatar, se tiver um pingo de decência, e de ética, deverá saber o que fazer…

Como deveria saber quem, em fúria, berrou “mentira” num plenário do partido que a escolheu. Poderia, ou não, estar a dizer a verdade, mas nem gaguejou! E como qualificar certo autarca que terá sussurrado a ouvidos rivais, que tinha um “doutoramento em manhosice”? É que, se o disse, terá sido um raro ato de franqueza. E se não o disse, poderia ter dito, por parecer a mais pura das verdades… Assim vai a política neste país… Razões têm, os que dela se afastam, embora votem. Mas, a continuar assim, teremos em quem confiar? E não irá a abstenção crescer cada vez mais?

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.