O valor pecuniário do Prémio Literário Miguel Torga vai ser doado para as obras de reabilitação do campo de concentração do Tarrafal. Segundo o ministro da cultura de Cabo Verde e vencedor do prémio, Mário Lúcio de Sousa, “é o único património comum entre Portugal e Cabo Verde, onde portugueses e cabo-verdianos sofreram juntos” a caminho da democracia.
Na cerimónia de entraga da distinção, e que teve lugar na Câmara Municipal de Coimbra, o governante recordou que o prémio vai, “simbolicamente, para Cabo Verde, que é o país que nos ensinou a inventar o quotidiano e a valorizar o que podia ser desprezível”.
Perante o Primeiro-Ministro José Maria Neves, o titular da pasta da Cultura não poupou elogios ao trabalho que é realizado por esse governante. E explicou porquê: “há 40 anos, Cabo Verde tinha apenas dois liceus e não tinha nenhuma universidade, mas hoje tem dez”.
Do lado da autarquia, o presidente Manuel Machado mostrou-se satisfeito por “distinguir, pela primeira vez, um autor de outro país lusófono”, o que permitiu honrar também “Miguel Torga, uma das mais marcantes figuras da literatura portuguesa do século XX”.
O autarca não perdeu a oportunidade de lembrar algumas das palavras do escritor “patrono” deste prémio numa cerimónia de 1992, e onde marcou também presença Jorge Amado. Palavras que “nunca foram tão atuais”, frisou.
Aproveitando a presença do secretário de Estado da Cultura Jorge Barreto Xavier, Manuel Machado disse que teria “muitas coisas para abordar” com ele, mas que está certo que terão tempo para o fazer, “noutras circunstâncias e noutro ambiente”.
Mas, “naturalmente, estamos preocupados, interessados e motivados em levar a bom porto o comprometimento que temos com a classificação de Coimbra como Património Mundial da Humanidade”, alertou.