Opinião – Presentes de Natal

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Francisco Queirós

Francisco Queirós

Hoje é Natal. Faz frio. E há quem tenha fome. É Natal. O calendário testemunha-o. 25 de Dezembro é dia de Natal. Comemora-se o nascimento do Salvador, o anunciado Messias que há mais de dois mil anos se invoca e avoca no bom e mau governo do mundo. Em seu nome se fez a Paz e muitas guerras, em seu nome se dão esmolas, caridade e amor e em seu nome se submetem povos, se exterminam gentes e raças.

Hoje é dia de Natal, dia de festa rica para os ricos, dia de festa simples para os pobres. Ou mesmo dia sem festa. Hoje é dia de esperança e de acreditar noutro Natal que virá. Mas também é dia de solidão, de sofrimento. O poeta escreveu: “Tu que dormes a noite na calçada de relento/Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento/Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento/És meu irmão amigo/És meu irmão”. E por toda a parte se encontram amigos e irmãos que dormem na calçada ao relento em lençóis feitos de vento ou como acrescenta o poeta, “numa cama de raiva com lençóis feitos de lume, sofrendo o Natal da solidão sem um queixume”.

É Natal em Dezembro para um povo amargurado e triste, talvez esquecido pelos deuses, mesmo pelo que reina na quadra. O deus-menino feito refém dos mercados, como os meninos da Palestina emparedados pelos senhores de Israel. “Natal é em Dezembro/ Mas em Maio pode ser”, quando o frio se rende à Primavera depois de cumprido Abril. “Natal é em Setembro/É quando um homem quiser”. Nesse crer no amanhecer que os homens sempre querem. Afinal, “Natal é quando nasce uma vida a amanhecer/Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher”. Ventre-mãe de meninos nus, pequeninos deuses com destino de homens e mulheres a quem “tu inventas ternura e brinquedos para dar/Tu que inventas bonecas e comboios de luar/ E mentes ao teu filho por não os poderes comprar”.

É Natal em Dezembro. Maio ou Setembro pode ser. É quando um homem quiser! E o homem quer. “E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei/Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei/Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei/És meu irmão amigo/És meu irmão”. “Natal é em Dezembro/ Mas em Maio pode ser”, diz o poeta Ary. Natal é quando um homem quiser. E pode o Homem querer transformar o sonho em presentes para todos: Dignidade, Paz, Trabalho, Pão, Saúde, Habitação, Educação. Natal de todos os dias num país soberano.

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