Opinião – Tudo bons rapazes

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Fernando Serrasqueiro

Fernando Serrasqueiro

Foram as instituições financeiras que originaram a crise em que nos encontramos e são elas que não nos deixam sair dela.
Olhemos para o nosso país. Quem não se lembra da forma concertada como Judite de Sousa entrevistou os principais banqueiros para acertar uma posição conjunta de forma a fazer um ultimato a José Sócrates e promover a entrada da troika? Foram arrogantes e responsabilizaram a dívida pública pela situação crítica do país.
O caricato da situação foi terem sido esses mesmos banqueiros a suplicar ao Estado, dito falido, que os salvassem através de empréstimo, que ainda hoje se mantém em alguns bancos.
Embora na situação de pedintes sempre clamaram pelo seu sucesso, capacidade de gestão e eficiência do nosso sector bancário.
Todos assistimos a uma narrativa desculpabilizante dos principais bancos. Faltava o BES abrigar-se no chapéu do Estado e isso era aproveitado para a propaganda apontar a sua superioridade ao nível da segurança. A habilidade gestionária estava na espertice enganadora e no evitar que a intervenção pública destapasse o malabarismo especulativo e se percebesse que era, como se verificou, um caso de polícia.
A sua implosão pôs a nu a debilidade do sistema com implicações danosas nos pequenos acionistas e depositantes e no manchar de toda a economia através duma onda de choque que ainda não se sabe o que levará na sua frente.
O BES de Ronaldo que promovia a captação de contas da concorrência vê o pânico apoderar-se dos seus clientes e o efeito é de sentido contrário. Nunca em Portugal tantos clientes abandonaram um banco em tão pouco tempo.
Mas a responsabilidade é só da família Espirito Santo? Numa economia liberal seria, mas na nossa, supervisionada por reguladores, outros agentes fizeram o papel da Dº Inercia.
Os reguladores não acompanharam a situação nem anteciparam consequências e o seu efeito de contágio. Se já tínhamos um antecedente com o BPN todos acreditaram que os erros não se repetiriam.
A 18 de Julho o governador do BdP dizia que a almofada do BES era suficiente para acomodar qualquer choque. Duas semanas depois diz que os prejuízos anunciados vão muito além do que era expetável e reconhece que desde Setembro sabe da existência de irregularidades graves.
Anuncia que a boia salvadora é um empréstimo do Estado, sem impacto para os contribuintes, mas responsabilizando toda a banca incluindo o banco público CGD.
Hilariante. Lembrei-me duma declaração dum atual presidiário, ex-presidente dum clube, que se orgulhava de já não dever nada a ninguém porque através dum empréstimo bancário pagou a todos.
A solução é o Estado emprestar fundos, proporcionados pela troika, a juros irrisórios, abaixo de 3%, quando para os outros bancos foi no mínimo de 8,5%. Alguém que vai a um banco financiar-se empresta a terceiros, ao mesmo juro, permanecendo em si a responsabilidade pela sua amortização? Ninguém, só um governo displicente.
Fazem-nos de parvos. Na verdade até somos, mas por manter este desgoverno.

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