Opinião – Sereia: um jardim à procura de autor

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Hélder Rodrigues

Hélder Rodrigues

1.O histórico Jardim da Sereia – Numa Coimbra rica em espaços verdes, o Jardim da Sereia é pela sua História um dos mais emblemáticos e queridos da cidade. No tempo de Afonso Henriques, era exploração agrícola dos Cónegos Regrantes e chamava-se Parque de Santa Cruz. No Sec XVIII foi transformado num magnífico jardim barroco para descanso, meditação e lazer. E tendo ali sido construída uma fonte com um tritão (semelhante a Sereia), o povo passou a chamar-lhe, ternamente, o Jardim da Sereia!

2.Um jardim magniífico, ao abandono – Entro na Sereia pela imponente entrada principal, de arcos e torreões quadrados. Percorro a larga Avenida rodeada de longos bancos de pedra, até à lindíssima cascata, com calcários, azulejos e plantas numa composição deslumbrante, cenário magnifico de representações artísticas e cuja imagem tem percorrido os quatro cantos do Mundo.

Tranquilamente subo a escadaria que me leva até à fonte do tritão, por entre um cenário idílico. Desço umas dezenas de metros até amplo largo do tanque circular onde os frades cruzios descansavam. Mas meus amigos leitores, através deste Jardim magnífico que acompanha Coimbra desde o seu nascimento, vejo pelo caminho muito abandono e destruição! Grafitis, bancos e mesas escassas e degradadas, azulejos destruidos, muros, escadarias partidas, candeeiros derrubados, arvores caídas, plantas abandonadas. Até a famosa cabeça do tritão foi decepada por mão criminosa! Muito lixo e incúria por todo o lado!

Neste ambiente fantástico, o Jardim da Sereia é um jardim ao abandono, uma pobre e degradada imagem daquilo que foi e daquilo que terá que ser, se formos uma cidade responsável!

3.Recuperação como Jardim temático – Depois de há pouco tempo ter visitado e admirado o belo Jardim dos Poetas em Oeiras (onde a maioria das estatuas são de antigos estudantes de Coimbra!!), julgo que a recuperação da Sereia passa por o transformar num jardim temático. E que talvez a temática mais oportuna seja “Coimbra. Património Imaterial da Humanidade”.

Uma selecção criteriosa de estatuas e bustos, de azulejos figurativos, de excertos de textos e poemas, de pequenas biografias em que Coimbra preste a sua Homenagem e exprima a sua gratidão a personagens que pelas suas obras transformaram, ao longo dos séculos, a Universidade e a Cidade nesse Estatuto que é orgulho de todos nós!

De Camões a Camilo Pessanha, de Pedro Nunes ao Nobel Egas Moniz, de João de Ruão a Cabral Antunes, de D Pedro Cristo a Raposo Marques, de Sa de Miranda a Miguel Torga, do Duque D Pedro ao estudante de Coimbra….. constituiriam para todos nós e para todos os visitantes um magnífico percurso para compreender o passado, cumprir o presente e construir o futuro de Coimbra!

Crie-se um Grupo cívico dos amigos da Sereia, movam-se as vontades das inúmeras Escolas e Entidades Culturais e artísticas de Coimbra e do País, de fundações nacionais e internacionais (desde a Gulbenkian à Unesco), dos milhares de antigos estudantes de Coimbra espalhados pelo Mundo, da população (sem esquecer os inúmeros artistas e artesãos da Regiao), que deseja uma Coimbra melhor, autentica, assertiva e grata aqueles que a projectaram no Mundo. E, com a ajuda de todos, teremos um sonho tornado realidade!

Um Jardim da Sereia onde a cidade conheça, recorde e se reveja no seu percurso esplendoroso ao longo da História de Portugal, e que a Unesco acabou há bem pouco tempo de dar a reconhecer ao Mundo!

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