Opinião – Mudanças tecnológicas e mudanças sociais

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AIRES ANTUNES DINISAires Antunes Diniz

Todos os dias a televisão, os jornais, a Internet, os amigos e as viagens trazem-nos novas perspetivas do futuro e, claro, também do presente. Vamos assim compreendendo as mudanças tecnológicas, e, com elas, as correspondentes mudanças sociais que, por serem tão subtis, não chegamos a percebê-las bem. E tudo acontece tão rapidamente que somos chocados pelas suas consequências, que se tornam surpresas inesperadas, habituados que estávamos a mudanças lentas que, quando ocorreram, causaram também espanto. Imagino. Aconteceu talvez quando se soube em 1939 que “Em Coimbra vai ser inaugurado, dentro em breve, um aeródromo, nele ficará a funcionar a escola de aviação civil, sob a direção do sr. Capitão Humberto Pais” 1.

Pelo que intuo e sei as esperanças que, então, surgiram não foram concretizadas na sua plenitude, assim como agora prevejo o mesmo quanto às possibilidades da Internet, dos carros dotados de novas tecnologias de controlo de velocidade, dos aviões e estou chocado, com o que aconteceu há dias nos arredores de Santiago de Compostela, também em relação aos comboios de alta velocidade. Somos assim obrigados a questionar as falhas das tecnologias, mas, esquecemos que elas falham por alguns dos que comandam os povos serem gente cheia de caprichos, até de “dolce farniente”, levando a que muitos problemas detetados, não tenham solução atempada por falha das hierarquias que fazem do desleixo o seu modo de estar no mundo.

No caso, de Espanha, sabemos como Rajoy tem atrás de si telhados de vidro e muita coisa a esconder, o que explica uma parte dos problemas espanhóis, incluindo a má aplicação da tecnologia, que persiste em marcar o quotidiano espanhol. Deste lado da fronteira, tudo é semelhante na inabilidade dos chefes e, também, nos muitos casos de corrupção e de incompetência, que marcam o currículo dos partidos do arco da governação.

Infelizmente, a incompetência e o desleixo não moram só na Ibéria.

De facto, os casos Assange, Manning e Snowden mostram como os estados mais fortes estão sempre a planear interferências inaceitáveis nos pequenos países, para onde exportam a crise, abusando assim das tecnologias da informação. São as que permitem a globalização, gerando assim focos de tensões sociais por tudo o mundo.

Pior ainda, sem qualquer consciência do mal que fazem, consideram que todos os que denunciam esta tragédia em marcha são traidores. Mas, não o são. Mostram só solidariedade e consciência de uma cidadania global com os povos oprimidos.

De facto, criaram os estados fortes do mundo, em simultâneo, esta crise financeira global que tornou ingovernáveis os sistemas financeiros nacionais. Notamo-lo nós no crescimento inexplicado da nossa dívida, enquanto nos propõem uma austeridade que, como não dá resultado, tal como o mostram os dados recentes das economias frágeis, são sinal de uma incompetente e cruel opção de classe.

Digamos-lhe por isso não!

 

1 Voz de Lamego, Ano IX, n. 455, 13 de Julho de 1939, p. 1, coluna 5.

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