Opinião – Um mundo em mudança

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Luís Parreirão

1. Escrevo a algumas horas da comunicação do Primeiro-Ministro aos portugueses. Não é preciso ser adivinho para antever que o nosso pequeno mundo vai, mais uma vez, mudar e mudar para pior.

Certamente que os nossos rendimentos vão diminuir, os níveis de consumo também e a pobreza que o país ainda há tão pouco tempo conhecia tão bem vai certamente voltar, agora numa versão mais camuflada e envergonhada.

De qualquer forma há uma diferença entre a situação de outrora e a que agora vivemos. Diferença que deve merecer reflexão.

Quem, há trinta anos, estivesse empregado de acordo com as suas capacidades, recebia um salário que era suficiente para fazer face às suas despesas básicas permanentes. Não é para mim seguro que actualmente a situação seja idêntica! Dito de outra forma, há hoje muitos cidadãos que, empregados e recebendo pontualmente o seu salário, não conseguem pagar as suas despesas básicas permanentes!

Se o trabalho não cumpre esta sua função, que valores e princípios é que vão dominar, a partir de agora, a nossa sociedade?

2. Mudanças há, porém, que nos fazem ter alguma esperança. Acaba de ser notícia que a cosmopolita Cidade de Paris vai ver a Presidência da sua Câmara Municipal disputada por uma candidata socialista, Anne Hidalgo, que é, ela própria, um sinal de renovação do PSF mas, também, da sociedade francesa. É uma mulher, filha de imigrantes espanhóis e, contrariamente à prática generalizada da política francesa, não acumula mandatos.

Sendo que as eleições terão lugar em 2014, a candidata entendeu voluntariamente comprometer-se com “um ano para ouvir e conhecer as opiniões dos seus concidadãos”.

E, claro, na boa tradição da escolha de François Hollande como candidato socialista à Presidência da República, também Anne Hidalgo se afirma, desde já, disponível para uma “primaire citoyenne”.

Se, como diz Miguel Torga, “O mundo é uma realidade universal, desarticulada em biliões de realidades individuais ”, não é menos verdade que não podendo nós mudar o mundo todo, as actuais circunstâncias nos compelem a dar um sentido à vida na asserção que ensina Ortega Y Gasset: “Viver é sentir-se fatalmente forçado a exercitar a liberdade, a decidir o que vamos ser neste mundo. É, pois, falso dizer que na vida decidem as circunstâncias. Pelo contrário: as circunstâncias são o dilema sempre novo ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.”

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