Morreu um dos últimos “figurões” da cidade de Coimbra

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Morreu Adelino Paixão. Figura típica, um dos últimos “resistentes” dos “figurões” que marcaram a cidade nas décadas de setenta e oitenta. Adelino foi ontem, por volta das cinco da manhã, encontrado já cadáver, ali ao pé do Banco de Portugal. Não sobreviveu à decadência física e psíquica que há muito evidenciava.

Homem de companhia, Adelino viveu largos anos um tanto ofuscado pelo porte agressivo – aristocrático, mesmo –, de um outro figurão, a cujo nome próprio apenas se associa o de Pedro. Morto este, que se dizia herdeiro de um hotel em Lisboa, Adelino viria a encontrar Júlia, com quem se repetiu o desequilíbrio de caráter: ela altiva, ele submisso e simples.

Dava nas vistas, portanto, a parelha Adelino Paixão e Júlia Madeira. Na baixa, um dos olhares mais atentos é o de Luís Quintans, comerciante, filósofo e cidadão ativo, que assim os descreve, no seu blogue, “Questões nacionais”: “Ambos têm um ligeiro desequilíbrio psíquico, embora nele seja mais patente, apesar disso, ambos, têm o seu quê de mistério e de encantamento. Ele, o Adelino, completamente despreocupado com a forma como se apresenta. Desde que lhe caia uma moeda nas mãos, não interessa de quem venha, e mesmo que trate qualquer burro, como eu, por doutor”.

À Júlia – cujo internamento, recente, terá contribuído para o definhamento irreversível da saúde e da vida de Adelino –, Luís Quintans reconhece orgulho e preconceitos: “É uma senhora, está de ver. Ela aceita, mas não é de qualquer um. Só de quem conhece! Não é a primeira vez que, sendo acometida dos “azeites”, se vira para o interlocutor e interroga: “olhe lá, você pensa que está a falar com quem? Eu sou uma funcionária pública de saúde. Está a ouvir?!”.

O Calhabé e a Solum eram outro dos poisos do Adelino. Dantes, muito mais, quando o Pedro ditava regras. Lá andavam, “altas horas da madrugada, aos gritos, um a fugir do outro, depois o outro a fugir do um”, recorda Jorge Peliteiro, no seu blogue “Impressões de um boticário de província”.

Morreu o Adelino. Algures, o Pedro – e também o Tatonas e o Taxeira e outros – gostarão de ter mais um para a saudade do nonsense coimbrão.

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