As intrarredes sociais

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Fernando Boavida

No ser humano não existe nenhuma dimensão mais complexa do que a dimensão social, isto é, aquela que regula a forma como cada indivíduo se relaciona com os seus semelhantes e com o meio que o rodeia. São as questões sociais que definem o que somos e quem somos.

Os processos sociais são de tal forma complicados e poderosos que têm marcado a evolução da nossa espécie, a história da civilização e, naturalmente, a política e a economia. Note-se que, no que respeita este último aspeto, há quem confunda economia com sociologia, quem confunda sociologia com economia e quem teime em que uma nada tem a ver com a outra.

A prova mais irrefutável da força da dimensão social é a fulgurante popularidade das chamadas redes sociais que, em menos de uma década, tirando partido da generalização das tecnologias da informação e comunicação, mudaram a face do mundo. E porque essa mudança social teve e tem um impacto na economia, as empresas olham para as redes sociais como um instrumento potencialmente muito útil para o seu sucesso.

É certo que são já incontáveis as empresas que utilizam as redes sociais para o seu marketing e publicidade, o que é perfeitamente natural dado o enorme alcance que este tipo de redes proporciona. Mas o que muitas tentaram e outras tentam agora é transportar o conceito de rede social para o seu interior, isto é, para os seus processos internos de funcionamento, constituindo aquilo a que se poderia chamar de intrarrede social.

A ideia é, na sua essência, a de possibilitar uma eficaz gestão e difusão do conhecimento e know-how internos, fomentando a troca de informação, a colaboração entre equipas e a inovação. E para isso nada melhor do que uma ferramenta de rede social, através da qual todos os trabalhadores – ou, como agora se diz, colaboradores – da empresa possam interagir.

No entanto, da teoria à prática vai sempre alguma distância que, frequentemente, é bastante grande. Muitas empresas dispõem das suas próprias plataformas de interação social, mas são frequentes os casos em que essas plataformas são muito pouco utilizadas pelos trabalhadores, apesar de motivações como prémios para melhores ideias ou para os recordistas de interação.

Há casos em que essa inércia é combatida definindo regras para a utilização ativa das redes sociais em meio empresarial, ou cultivando práticas que incentivem a interação em ambiente profissional, mas o que é certo é que o caso de sucesso das redes sociais está longe de se concretizar no interior das empresas.

A questão é, em si própria, social. Quando se pretende replicar um fenómeno global a uma escala muito menor, outras forças, de natureza social distinta, se sobrepõem, confirmando a nossa extraordinária complexidade enquanto seres eminentemente sociais.

 

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