A ligação Aveiro-além Salamanca

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Ricardo Paulo, Área de Desenvolvimento de Negócio do Porto de Aveiro

O Ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, anunciou na semana passada a construção de duas ligações ferroviárias em bitola europeiaSines a Madrid e Aveiro a Salamanca – de ligação entre Portugal e a Europa.

Rapidamente surgiram manifestações de grande satisfação, quer por parte de várias Câmaras da Região Centro, bem como pela Administração do Porto de Aveiro. Na Assembleia Municipal de Aveiro registou-se um caso raro de consenso em torno do assunto.

Por razões históricas e de estratégia que remontam à época das invasões napoleónicas, Espanha decidiu adoptar um modelo ferroviário diferente do do resto da Europa, ou seja, com uma bitola mais larga (30cm) que a utilizada nos outros países europeus. Este facto obrigou Portugal a adoptar o mesmo modelo.

Passado todo este tempo, o que antes foi vital para a defesa do território, constitui actualmente um forte constrangimento ao movimento de mercadorias além-Pirinéus. Hoje em dia a passagem pirinaica de mercadorias ferroviárias carece de uma operação logística de transferência da carga (em Irún) para composições de bitola europeia, operação que encarece, em média, o custo do transporte em 15%.

Dado o nosso posicionamento periférico e tendo em conta que mais de 75% das nossas transacções comerciais são realizadas com países europeus, facilmente entendemos que o aumento da competitividade da economia portuguesa tem como factor-chave a diminuição dos custos logísticos e de transacção. Se a este facto juntarmos a necessidade de incrementar as exportações, entende-se que tais desideratos jogam-se essencialmente no transporte das mercadorias de e para a Europa. Ora, com o crescente aumento dos custos do transporte rodoviário cumpre a Portugal encontrar alternativas, sob pena de colocarmos em causa o nosso futuro. Daí a importância desta ligação.

Se é certo que todos têm noticiado a linha “Aveiro-Salamanca”, esta deve ser vista como um troço daquela que é a ligação chave “Aveiro-Irún”. A bitola europeia de alta velocidade só faz sentido se pensada além Salamanca, mais propriamente além Pirinéus.

A solução proposta pelo ministro integra-se nas políticas descritas no Livro Branco dos Transportes e nos actuais planos da UE para as redes transeuropeias de transportes (RTE-T), e tem como grande objectivo ligar Portugal à Europa trans-pirinaica por ferrovia.

Aliás, foi essa também a ideia defendida pelo Primeiro-Ministro e, diga-se, que a escolha da Região Centro se reveste de toda a lógica, porque possui um forte tecido empresarial baseado em bens transaccionáveis e de cariz exportador vital para o sucesso do país.

Além disso, este é o caminho mais curto e menos dependente do traçado espanhol, sendo também a principal alternativa ao principal eixo rodoviário (E80) de entrada/saída do País. Segundo o último relatório do Observatório Transfronteiriço Espanha-Portugal, Vilar Formoso é, de longe, a maior porta das importações/exportações nacionais.

Last but not least, a complementaridade ferro-marítima. Aveiro e a sua região possuem uma infra-estrutura portuária em franco desenvolvimento e preparada para receber a bitola europeia. A ligação ferroviária ao Porto de Aveiro está preparada para receber a bi-bitola (ibérica e europeia), e a Plataforma Logística de Cacia encontra-se em pleno funcionamento. Relembro o peso estratégico desta Plataforma que, num raio de 5km, dotará de uma ligação à Europa em bitola europeia duas das maiores empresas exportadoras do nosso país: a Bosch e a Renault/Nissan.

À luz das transformações que ocorrerão na rede ferroviária da Região Centro e de Castela e Leão, surge uma enorme janela de oportunidade para um estreitar de relações (já de si fortes) entre estas regiões e as suas infraestruturas logísticas, a Zaldesa (Cylog) e o Porto de Aveiro. Numa perspectiva de dimensão europeia, está dado o passo para que a Região Centro e Castela e Leão se tornem, em termos logísticos, numa única região que define o hinterland natural do Porto de Aveiro.

Com esta ligação ferroviária a Região Centro reforçará definitivamente um papel preponderante na economia nacional e o Porto de Aveiro o seu pipeline para o centro da Europa.

 

 

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