Morte de Carlos Castro serve de alerta aos jovens que querem ser famosos

Spread the love

O psiquiatra Afonso Albuquerque disse esperar que a morte do cronista Carlos Castro sirva para alguns jovens, “dispostos a tudo para subirem nos meios de grande visibilidade social”, perceberem que “esta sub-cultura tem alçapões”.

“Espero que [o caso] alerte alguns jovens que este tipo de carreira, este meio sócio cultural, tem alçapões”, disse o antigo diretor do Serviço de Psicoterapia Comportamental do Hospital Júlio de Matos.

Para Afonso Albuquerque, este caso mostra “o que pode acontecer numa sociedade que crescentemente tem vindo, em alguns dos seus meios, a valorizar muito a beleza, o aspeto físico”.

O especialista refere-se, nomeadamente, aos concursos televisivos que “são dirigidos essencialmente a jovens inexperientes que se sentem seduzidos pelos 15 minutos de glória”.

“Se por um lado estes concursos têm coisas positivas para quem quer uma carreira na moda, também têm a face negativa de imbuir os jovens desta mentalidade e torná-los dependentes, escravizados mesmo, por este tipo de cultura”, disse. “Beleza, dinheiro, fama, tudo isto parece muito fácil. Basta ter bons genes, ser bonito, fazer ginástica. E não faltam jovens ansiosos por entrarem neste tipo de carreira”, acrescentou o especialista.

Afonso Albuquerque acredita que esta é uma “indústria poderosíssima que não vai recuar perante um crime destes”. O resultado, disse, são “situações de grande exploração psicológica e emocional dos jovens, que se passam”.

Rui Abrunhosa Gonçalves, especialista em psicologia da justiça, defende que em “situações de grandes saltos da condição em que a pessoa vivia para uma notoriedade até então inexistente”, esta deve ser acompanhada por alguém que sirva de “elemento de segurança”.

Portugal já assistiu a casos de estrelas efémeras – feitas em programas televisivos, como o famoso Big Brother, transmitido pela TVI – que se “passaram”.

Um desses participantes “já se tentou suicidar e destrambelhou completamente. A notoriedade afectou-o extraordinariamente”, disse.

O mestre em psicologia do comportamento desviante defende um crescimento “progressivo”. “Quando saltamos de uma linha de ação, de um padrão de funcionamento, para um outro de grande exposição social, é evidente que, se não formos acompanhados, esta exposição pode ser dramática”.

Segundo Rui Abrunhosa Gonçalves, é longo o caminho para um lugar ao sol e exige grande persistência, trabalho e vontade. “O problema pode chegar se não se souber gerir a fama, quando esta cai nos braços”, disse, referindo-se ao perigo de as “vulnerabilidades psicológicas poderem vir ao de cima”.

O psicólogo ressalva, contudo, que o crime de que foi vítima o cronista Carlos Castro é “um caso extremo”.

“Este é um crime de ódio, com violência extrema, uma procura de eliminar fisicamente alguém e de o deixar eliminado de uma maneira que não deixe dúvidas sobre o que se pensava sobre essa pessoa”, concluiu.

One Comment

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.