Um livro infantil escrito por Bruno Gonçalves acerca da história e da cultura do povo cigano é lançado este sábado na sede da Associação Cigana de Coimbra.

Edição própria do Centro de Estudos Ciganos, o livro – intitulado “A História do Ciganinho Chico” – tem ilustrações de Tiago Moleano Gomes e surge da perceção do autor de que existem lacunas neste domínio, que pretende minimizar com a obra.

“Há cerca de dez anos trabalhei como mediador na EB1 do Ingote onde cerca de 90 por cento dos alunos eram ciganos, através do projeto da Associação Cigana Coimbra ‘Ponte Sem Margens’. Reparei que os conteúdos programáticos escolares não faziam alusão à cultura cigana e quando se fazia era de uma forma folclórica e desfasada da realidade das vivências atuais das comunidades”, disse o autor.

De acordo com Bruno Gonçalves, “também era notório o desconhecimento dos meninos ciganos sobre as suas origens e sobre o percurso do povo cigano ao longo destes séculos”.

Com prefácio de Mirna Montenegro, o livro pode ser usado como uma ferramenta pedagógica pelos professores na sala de aula e, “principalmente, para promover o conhecimento mútuo entre as várias culturas”, explicou Bruno Gonçalves, da direção nacional da Associação SOS Racismo.

“Acredito que só assim as representações negativas que se têm de uma determinada cultura se podem ir esvaziando”, disse. Para Bruno Gonçalves, “este livro também funcionará como um protesto contra a forma utópica dos nossos governantes, que apregoam a diversidade e interculturalidade e multiculturalidade e que na prática é zero, pois o nosso sistema de ensino está desenquadrado da realidade do país, que cada vez mais é diverso e multicultural”.

Na sua perspetiva, “se não fosse o esforço e sensibilidade de alguns professores em implementar a dita multiculturalidade nas suas aulas”, o sistema de ensino português “seria uma máquina de formatar pessoas”.

Na obra, o pequeno Francisco, de nove anos, da comunidade cigana de Coimbra, é questionado pela professora sobre a história do povo cigano e, sentindo-se embaraçado com a sua ignorância sobre as suas origens, acaba por recorrer ao avô Paulo, que colmata essa lacuna.

Nos agradecimentos, Bruno Gonçalves escreve que este livro para crianças “é um pequeno gesto de um português cigano que anseia por mostrar aos quatro ventos que ser cigano é sonhar”.