Opinião: IC2

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Está na descida para a Mealhada faz mais de quinze anos, uma garota dentro de um carro, ou uma loira bonita debaixo de um guarda chuva, ou uma morena elegante a falar ao telemóvel. Está ali sempre em horas públicas, em tempos de Fátima e peregrinos e em tempos de pressa na corrida para o emprego.

Ela está só e vai sendo várias numa única. Prostitui-se por preços baratos que desconfiamos todos que entrega a alguém depois. Está ali faz anos e como não é arvore, mas está entre elas, ninguém comenta. Estaciona um camião ou uma carrinha, conversam depressa e ela lá vai aconchegar mais uma alma. Param eles, que por vezes são mais tristes que elas e param alguns repetidamente. “O meu cliente” dirá ela se lhe questionarem alguma coisa.

Há uma moça a vender prazeres na beira da estrada e desconfiamos que não o faz sem ser forçada. Há aqui um vendaval de questões. Ela prefere o dinheiro fácil? Pode ser que sim, que a cultura não deu para mais. Ela ganha ali o que nunca lhe pagarão na fábrica? Provavelmente sim porque há patrões que ainda não perceberam as vantagens da qualidade dos funcionários. Ela é obrigada a estar ali? Se sim eu fico ofendido com os tribunais que não puniram quem a forçou, com a polícia que não persegue, identifica e prende quem o faz, com os pais que a educaram nesta miséria.

A miséria intelectual não tem nada a ver com a prostituição. A profissão mais antiga tem mulheres que a usam por ganância, como o Zenal usou a PT e o Ricardo roubou o BES, e o Tomás enterrou o Montepio. São tudo gente de uma laia específica. A ganância materializa um comportamento. Conheci “damas da noite” que ganhavam para elas e suas circunstâncias vaidosas, mais de dezasseis mil euros por mês. Vestiam bem, seduziam com esmero, interpelavam em várias línguas, usavam o que havia de melhor e arranjavam-se com inegável bom gosto. Por elas choraram as mulheres de Bragança na capa da Times.

Por elas choram canções como “la bien paga”. Por elas se despojam de tudo homens apaixonados pelas capacidades surpreendentes de os enlouquecer. Elas são clientes assíduas de cirurgia plástica e de lojas de estética. São milhões de mulheres ao que ouvi dizer.

O que é diferente é o roubo de pessoas para serem prostituídas. Crime é sequestrar mulheres ou provocar-lhes medos ou usar os seus corpos para outros enriquecerem. A lei existe e a lei defende os cidadãos contra os bandidos e os sequestradores. Um país onde haja mulheres que vendem desejos e prazeres, se não são exploradas ou maltratadas, não me choca nem me ofende. Um Portugal onde há escravas de sexo, onde há polícias que não protegem estas jovens, onde há tribunais que não punem exemplarmente quem abusa de mulheres, isso revolta-me.

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