A arte de cantar as cantigas que animam o corpo e alimentam a alma

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SEGUE ME A CAPELA

Depois de um primeiro trabalho discográfico eleito pelo Blitz como um dos melhores álbuns nacionais de 2004, as Segue-me à Capela estão de regresso com um precioso cd-livro a que deram um título sugestivo: “San’Joanices, paganices e outras coisas de mulher”. Concerto de apresentação – que as sete cantoras fizeram questão de realizar numa data próxima ao Dia Internacional da Mulher – acontece amanhã, às 21H30, no Teatro da Cerca de São Bernardo (TCSB).
De volta ao espaço programado pel’A Escola da Noite, um ano e meio depois daquele que foi um concerto memorável – “Em tempo de finados, cantar aos vivos” –, as Segue-me à Capela convidam o percussionista Quiné Teles, o Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC) e o grupo Galandum Galundaina.
Elas, recorde-se, herdeiras legítimas, entre outras vozes e projetos marcantes, do melhor que a tradição musical cultivou em Coimbra, cidade onde todos os encontros aconteceram e de onde partiu, para o país e para o mundo, uma forma nova de trabalhar e apresentar a música tradicional portuguesa. É assim que, no repertório das Segue-me à Capela, figuram cantares tradicionais recolhidos por Michel Giacometti, José Alberto Sardinha, Ernesto Veiga de Oliveira, Judith Cohen (dois temas sefarditas) e, claro, pelo GEFAC. A completar meio século, o GEFAC poderá, aliás, considerar-se com toda a justeza um dos grandes responsáveis pela renovação profunda da música portuguesa de origem tradicional, protagonizada por projetos como a Brigada Victor Jara.

Sete tempos, 17 magníficos temas

O cd-livro das Segue-me à Capela lançado em dezembro último – numa sessão que decorreu no Conservatório de Música de Coimbra e que contou com a presença de Louzã Henriques –, está dividido em sete capítulos, “tal como sete são os dias da semana, as fases lunares, os pecados mortais, as notas musicais”.

E as cantoras explicam porque deram a esses capítulos o nome de artes fugidias: “artes, porque da arte de cantar se trata, fugidias porque, nunca imutáveis, abrem-se a novas explorações e experiências musicais”. Neles se evoca o São João, “o santo das folias e dos amores, cantado de norte a sul do país, o santo do solstício de verão, dono da noite em que o ar tem mil sacrilégios e da água onde repousam os deuses das ervas, numa junção perfeita entre as vestes cristãs e os rituais pagãos”.

Isto em sete tempos fundamentais, a que correspondem 17 temas magnificamente cantados: evocando o divino e o terreno, espantando a fadiga, animando o corpo, alimentando o coração, encantando meninos, encomendando a alma e sendo mulher.

O livro que acompanha o disco – e que se encontra à venda no TCSB – é feito por uma dezena de textos originais, num projeto “assumido” por Nuno Camarneiro e escritos por um grupo de autores a partilharem com as Segue-me à Capela gostos e cumplicidades: João Curto, Manuel Louzã Henriques, Domingos Morais, Miguel Cardina, Amélia Muge (também autora de uma das músicas que integra o disco), Maria do Rosário Pedreira, Teresa Carreiro, Manuel Rocha e Catarina Gouveia Alves, para além de Nuno Camarneiro.

Como sabiamente escreve Louzã Henriques, “Elas cantam como se fizessem a grande sementeira da esperança, matriz de todas as sementeiras, temperada daquela ternura que lhes enriquece os olhos”.

 

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