Opinião – Rutura

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Fernando Serrasqueiro

Fernando Serrasqueiro

Sabíamos que Passos Coelho não cabia na linha ideológica tradicional do PSD e por isso foi repudiado por líderes mais próximos da social-democracia. O seu projecto foi construído por oposição a todas as correntes dominantes no seu partido e de forma gradual foi apoiado pela JSD que cativou através das suas ligações aí construídas.
As suas aspirações esbarravam em três dificuldades imediatas: liderar o seu partido, ser primeiro-ministro e alterar a Constuição.
Sócrates tinha triturado vários líderes e o PSD estava débil e pronto para experimentar um discurso mais radical. O livro que editou era clarificador do seu projeto de rutura.
Cedo se percebeu que a crise lhe era favorável se soubesse aproveitar a onda de descontentamento que inevitavelmente surge nestas circunstâncias. Quanto à Constituição logo propôs, sem êxito, a sua revisão para que ela pudesse acomodar as suas ideias.
Então, só necessitaria de esconder o seu pensamento num populismo, que as dificuldades promovem, através dum discurso de que o povo não poderia suportar mais sacrificios e inclusive recusa aceitar qualquer subida de impostos.
Foi isso que o levou ao chumbo do PEC IV porque sabia que ia abrir as portas ao seu grande aliado, cúmplice no percurso futuro, a troika.
Afastadas as eleições alterou o discurso agora já claro e com o objectivo de ir para lá da troika mas à sua boleia.
Sabendo que a revisão da Constituição não avançaria de acordo com os seus interesses opta pela tática de guerrilha e faz avançar propostas violadoras da Constituição, com o argumento que os juizes têm de levar em conta o ambiente excepcional. Ou doutra forma, hoje teriam de decidir de modo diverso ao que decidiriam antes e assim as suas decisões não serviriam de jurisprudência. Curioso.
O seu ódio ao TC fê-lo esquecer que as críticas que lhe dirigiu foram sobretudo para o PR que já tinha argumentado pela violação da lei fundamental.
Cavaco é um instrumento nas mãos de PPC. Tanto lhe pede que promova farsa de consensos para disfarçar crise governativa, como lhe atira pedras por estar na direção dos juízes.
O seu perigoso projeto implica um Estado mínimo que não seja possivel reverter em futuros atos eleitotais. Daí a sua iniciativa para redução drástica de impostos, especialmente para as empresas por forma a fazer diminuir recursos para as áreas sociais, que entretanto foram resistindo à actual época de poda política-social.
Está em curso a maior rutura do sistema desde Abril.
A última derrota do PS teve fortes implicações nesta mudança. Conscientes, ou não, muitos foram seduzidos para uma mudança que se tornou calvário.
Todos sabiam, inclusive BE e PCP, que a saída de Sócrates, que promoveram, conduziria PPC ao poder e os que leram o seu livro “Mudar” conheciam o que estava em marcha.
Sadomasoquismo? Não,cálculos partidários que espero, para contariar a aspiração de Passos Coelho, sejam colocados de lado. Mudança, mas tranquila!

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