Opinião – A ortopedia: uma só especialidade

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RUI MANUEL DIAS DR

Rui Manuel Dias

Os Hospitais são organizações complexas, com um impacto importante na prestação dos cuidados de saúde e fortes ligações aos domínios económico e social. No atual contexto socioeconómico, há que redefinir o papel e a sustentabilidade dos hospitais sem nunca perder de vista o objectivo principal destas estruturas de saúde.

As recentes alterações hospitalares verificadas em Coimbra no âmbito da remodelação e fusão dos hospitais ocasionaram algumas discussões públicas que, embora salutares e imprescindíveis, não devem ser norteadas pela pura emoção, devendo atender a princípios de racionalidade. Os meios de comunicação social têm feito eco das preocupações de vários quadrantes políticos e sociais sobre o hipotético encerramento da Ortopedia Pediátrica. No entanto, parecem descontextualizar a discussão do âmbito da reorganização hospitalar e, em alguns casos, parecem fazê-lo com manifesto desconhecimento da situação.

O nosso país assistiu nos últimos dez anos à redução de um número significativo de hospitais, tendo passado, com as fusões efetuadas, de 90 para 50 unidades. Contudo, estas fusões não alteraram o número de estruturas físicas existentes. Infelizmente muitas das fusões foram efetuadas sem que fosse explicada de modo claro a sua necessidade, não tendo havido, de uma forma geral, a preocupação de divulgar os respetivos estudos prévios.

A reestruturação hospitalar visa, em teoria, a integração, a complementaridade e a concentração de recursos financeiros, técnicos e humanos, numa ótica de melhoria de oferta das condições de saúde e de melhoria de aproveitamento dos recursos existentes, com diminuição dos gastos desnecessários. O Serviço Nacional de Saúde, de imprescindível necessidade e de reconhecido mérito, deverá preocupar-se sempre com a eficiência do sistema e, nesse sentido, deverá ter um projeto dinâmico e atual.

O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, EPE (CHUC) foi criado a 2 de março de 2011, sendo constituído pela fusão dos Hospitais da Universidade de Coimbra, EPE, do Centro Hospitalar de Coimbra, EPE, e do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra. De referir que o Centro Hospitalar de Coimbra, EPE, foi criado pelo Decreto-Lei n.º 50-A/2007, de 28 de fevereiro, e integrou três estabelecimentos hospitalares: o Hospital Geral (também conhecido por Hospital dos Covões), o Hospital Pediátrico e a Maternidade de Bissaya Barreto. Resumindo, com a criação do CHUC, várias unidades hospitalares fazem parte da mesma estrutura orgânica e, em alguns casos, com as mesmas valências.

A Ortopedia Pediátrica, integrada na Especialidade de Ortopedia, tem realizado um trabalho incontestavelmente importante, reconhecido por todos. Os médicos ortopedistas e os demais profissionais que têm trabalhado no Hospital Pediátrico, souberam granjear reconhecimento pela atividade desenvolvida, da mesma forma que outros médicos ortopedistas e demais profissionais de outros Serviços de Ortopedia.

A fusão do Serviço de Ortopedia numa só estrutura, com pólos de autonomia técnica, só terá vantagens. Possibilitará uma maior potencialização de infraestruturas porque os meios técnicos e humanos não podem ser exclusivos de uma só instituição mas devem estar ao serviço dum grupo amplo de utilizadores/pacientes.

A Ortopedia do Hospital Pediátrico, integrada num único Serviço de Ortopedia do CHUC, (como sucedeu com o Serviço de Ortopedia do Hospital Geral), terá seguramente um papel mais determinante na resolução dos problemas ortopédicos dos doentes. Por outro lado, com o aumento da idade de acompanhamento pediátrico até aos 18 anos, algumas das patologias ortopédicas necessitam de formas de tratamento iguais às do adulto. Dividir vários saberes em Serviços distintos é neutralizar sinergias importantes.

A autonomia não pode significar distanciamento e (in)diferença dos Serviços. A autonomia exige diferenciação e aproximação dos Serviços.

Quando se caminha para a hiper-especialização, torna-se cada vez mais evidente a interdependência dos saberes e tornam-se cada vez mais importantes as perspectivas inter – e transdisciplinares.

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