Mui digno e ilustre zé povo

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LUCÍLIO CARVALHEIRO

Lucílio Carvalheiro

Eu bem queria não tornar a importuná-lo com os meus escritos. Mas porque já li, entre outros, Maquiavel, Marx, Karl Popper, Friedman, as Encíclicas Rerum Novarum e a Quadragesimo Anno, confrange-me cada vez mais o estado de espírito público. E não resisto a escrever-lhe. Ora confrange-me, repito, a desagregação social progressiva do país, não contrariada, não evitada, pela acção do Presidente da República, não combatida pelo Partido Socialista (PS), o maior partido na oposição.

Depois, apesar do barulho na comunicação social, avolumado pelas manifestações populares inorgânicas, denunciando o agravo a que o Povo está, constantemente, a ser submetido, debalde se espera o “acto vingador” do ideal democrático; qual seja, a legitimação política, que não a formal, da governação.

É, pois, no verdadeiro sentido da definição da Política que lhe falo.

E agora a verdade.

Foi primeiro o escândalo politico do chumbo do PEC IV. Consequência: colapso da liquidez bancária; consequência da consequência: pedido de ajuda externa – financeira – ao Estado Português.

Foi depois o escândalo político de o PSD – o fautor dessa tragédia – ganhar as eleições legislativas baseado na inocência, na falta de informação, na boa-fé, do cidadão-comum.

Mas vamos deixar o Governo PSD/CDS que só pensa no deficit orçamental, na Troika, na destruição do Estado Social continuar a desacreditar a Política – sentido verdadeiro da palavra – o mesmo é dizer a desacreditar-nos como Povo? E vamos deixá-los anular a nossa dignidade humana, sabotando todas as nossas fontes de receita – emprego? E a extorquir, via impostos, todo o nosso pecúlio?

Também vejo, com aflição, que a até a juventude, sempre generosa, não está, politicamente, connosco – a geração dos pais. Os melhores, com formação académica e não-só, não ficam, emigram propriamente convictos de ser este um Governo que não convém e não descortinarem, no PS, uma âncora, uma amarra, de esperança.

Eu, já começo a ter vergonha de falar de Política porque, Ilustre Zé Povo, sabe tão bem ou melhor que eu que Política não é apenas a concessão com ar de generosa outorga do Governo ou do Poder instituído nos partidos. A Política, o exercício político, o combate político, não se rege nem por tecnocrátas, por gente que no lugar de serem académicamente “formados”, estão académicamente “formatados”; nem por gente partidária calculista, oportunista, que de táctica política usa a não táctica – esperando nas suas trincheiras, quanto mais barulhentas melhor para que não os venham a acusar de desertores.

Quer exemplos significantes? O Governo PSD/CDS só propala argumentação técnica «formatada»; o PS só propala que é oposição mas foge, como o Diabo da Cruz, de todos os acontecimentos de contestação interna ou externa – uma e outra de verdadeira génese política – que o ensombre; anula-se em tudo o que poderia fazer – espera que a “maçã” caia de podre.

Devo acrescentar que se muita coisa corre mal, quase tudo: nada de desistir. O Povo conhece muito melhor as circunstâncias do que o Governo e o PS. É que, quem não admite que o regular funcionamento das Instituições Democráticas está em causa, não tem formação política bastante que lhe permita verificar que manifestações populares inorgânicas são disso prova evidente.

Termino, dizendo-lhe que pressinto que a máquina burocrática do «politicamente correto» está presa por um ténue e frágil fio de seda.

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