“Devemos ter jovens estudantes mas não podemos é ser hipócritas”, diz José Eduardo Simões

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Foto de Carlos Jorge Monteiro

Foto de Carlos Jorge Monteiro

A política de contratações mudou. Depois do “filão sul-americano”, agora é mais fácil ou mais acertado contratar em Portugal?

De há três ou quatro anos para cá, a valorização do real em relação ao euro foi de tal forma que tornou os salários dos atletas brasileiros, à partida, mais caros.

Depois, o Brasil, nos oito anos do presidente Lula e agora da Dilma Russef, ou melhor, até mesmo com o Fernando Henrique Cardoso, atravessou um período de evolução económica e social em que ascenderam à classe média muitos milhões de pessoas e os clubes fortaleceram-se financeiramente.

Os clubes brasileiros hoje podem estar ao nível de qualquer clube europeu no que diz respeito aos salários. Exceto talvez daqueles clubes que podem dar todo o dinheiro que quiserem, porque também não se sabe muito bem de onde é que ele vem.

Os clubes brasileiros hoje pagam muito bem e não são só os da 1.ª divisão, são também os da 2.ª e da 3.ª divisões. Mesmo nessas divisões pagam salários aos jogadores ao nível da 1.ª divisão portuguesa.

Há uns anos a esta parte é muito difícil recrutar atletas brasileiros.

Antigamente, o brasileiro era barato e o atleta português era muito bem pago. Agora inverteu-se esta situação. O atleta brasileiro é caro, apesar de, entre tantos milhões, haver sempre um ou outro que pode interessar, enquanto o atleta português é hoje mais barato.

Portanto, a política de contratações foi um pouco para África, para atletas portugueses, mas mantendo sempre um olhar sobre o Brasil, porque têm, de facto, atletas com muito potencial.

 

A Académica tem hoje como “capitão” um jovem formado no clube. É um exemplo que faz acreditar no valor da formação?

A formação deve ser o caminho para todos os clubes.

No caso do Flávio, é com particular carinho que o vejo amadurecer, não só como jogador mas também como pessoa. Veio para cá muito jovem, cometeu alguns erros de juventude, mas percebeu que o caminho devia ser outro e está agora um homenzinho. E quando digo homenzinho é com muito carinho e muita estima. Conheci-o muito jovenzinho e sempre procurei trazê-lo para um caminho mais favorável.

O facto de ele assumir uma postura e uma responsabilidade como o está a fazer é, para mim, muito agradável.

Outros atletas vão surgindo. O Sissoko não é português, mas esteve cá um ano e meio. E, quando os atletas são, podem demorar mais ou menos tempo a crescer, mas vão sempre chegar aos seniores. E temos atletas nos juniores e nos juvenis muito interessantes…

 

Ainda é possível ter atletas estudantes?
Devemos tentar arranjar jovens que sejam bons atletas e estudantes, de preferência. Não devemos é ser hipócritas e dizer que agora se faz ou não se faz e antes é que se fazia tudo bem.
Fui atleta da Secção de Futebol nos juvenis, na década de 1970, e tinha muitos colegas que vinham das mais diversas localidades do país e só estavam matriculados, nem às aulas iam. E os dirigentes, na altura, sabiam isso perfeitamente. Nos juvenis a Académica era semiprofissional. Vinham para cá, fingindo que estudavam, para poder alimentar o viveiro da formação. Estamos a falar de antes do 25 de Abril, quando a Académica tinha uma grande força.
Agora temos mais cuidado do que então havia, mas esse cuidado não impede que um ou outro atleta de craveira não goste de estudar e vá evoluindo.
Tenho, por exemplo, muita pena, que o Flávio, desde muito novo, tenha sido pouco amigo dos livros. Ao contrário, o Fábio Santos está em Engenharia Civil e a cumprir um percurso muito meritório.
Nós tentamos que eles sejam bons estudantes, mas, por vezes, é difícil.

Leia a entrevista completa na edição impressa de 24 de dezembro de 2012

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