Cultura e desenvolvimento

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Deambulo há vários dias numa cidade calma, simpática e que comecei por considerar cara, mas agora já consigo fazer as minhas refeições a um preço aceitável. Estou em Brixen no Tirol do Sul, quase encostado à Áustria e amanhã vou apanhar um comboio alemão que me levará até Veneza ou talvez só até Verona.

Por agora, procuro só perceber a dinâmica que faz do centro histórico de Brixen um lugar tranquilo e cheio de vida, onde encontro gente alegre que ri com espavento. Gozam a vida. As pequenas lojas mostram roupa bonita e enchem as ruas e pela manhã e pela tarde estarão cheias de compradores que comprarão tranquilamente. Entretanto, em Coimbra, a baixa está vazia e os turistas rareiam. Ninguém pensa em gizar um plano de animação cultural da cidade que traga continuamente mais turistas e mais compradores do que por aqui se faz. Todos se submetem aos “arquitectos e economistas” que matam os centros das cidades em nome do desenvolvimento dos “shoppings”, esquecendo os pequenos comércios e restaurantes que dão vida às cidades. Contudo, houve um tempo em que os arquitectos tinham preocupações culturais e velavam pela harmonia nos centros históricos. Muitos sabiam pensar pontes como obras de arte e também desenhar edifícios ajustados às necessidades do público a que se destinavam. Mas, alguns, espero que poucos, vão trucidando a cultura que receberam do passado. Outros mais arrogantes e menos sabedores, informa Carlos Fiolhais já em 2011 (p.73) em “acções … através das obras geridas pela Parque Escolar;… alguns arquitectos querem pôr em prática, através do seu design de espaços, teorias pedagógicas abstrusas…” Mas antes, não foi assim: Aconteceu em 1907 quando Joaquim de Vasconcelos, velando pelas Escolas Industriais como a Brotero escrevia: “A colecção Nepomuceno desapareceu ou foi destruída por incúria, quando o arquitecto (Nepomuceno) abandonou a direcção das obras de conservação do convento”. Esta incúria é na verdade o grande drama da nossa cultura, e os anos de governação de Sócrates foram ocasião para delapidação do nosso património escolar para além de outras tragédias, como a abstrusa avaliação de professores.

De facto, a ascensão profissional de alguns bem falhos de capacidade pedagógica, científica cultural foram uma tragédia inaudita. Foram mais uma vez da nossa perda de capacidade competitiva na economia mundial, onde, no mercado do turismo e não só, ganham os que forem capazes de valorizar a arte e a ciência que possuem e desenvolvem. E agora que estamos perante problemas bem graves ainda menos nos podemos esquecer disto. Lembremo-lo sempre.

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