Defender a educação e a saúde para anular os apetites do negócio

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Foto Gonçalo Manuel Martins

Disse, há dias, que o PCP fez mais pelo distrito, sem deputados eleitos, do que os demais partidos…

O PCP é um partido que tem uma organização vasta. O que fazemos é, numa situação em que não temos eleitos, nomear um dos deputados para nos representar. No caso de Coimbra foi a Rita Rato. E, neste ano e meio, o que ela fez foi recolher um conjunto de perguntas, de diversas estruturas, nem sempre da CDU (comissões de moradores, sindicalistas, pequenos empresários…), para depois colocar na Assembleia da República. São questões que, no nosso caso, tocaram o Metro Mondego, a Saúde, a Educação, a crise dos têxteis… Mas, em cada questão que levantamos, procuramos sempre levar propostas para a sua resolução.

Por que tem vindo a privilegiar as áreas da educação e da saúde?

Porque são estruturantes da democracia. Nós pensamos que um país desenvolvido e saudável só o pode ser se tiver uma educação e uma saúde avançadas. Por outro lado, são também as áreas mais fáceis de combater, se um governo assim o quiser, até porque são duas áreas muito apetecíveis para o negócio. Não é por acaso, aliás, que nós nos temos batido pelo SNS. E vamos mais longe: é determinante que um idoso que precise de medir a sua tensão arterial ou de ter uma consulta o possa fazer perto de casa. Nada disto obedece a uma lógica de luxo, mas antes a uma lógica de necessidade.

Também teme pelo SNS?

Mas, claro. Veja que ainda há poucos anos, um estudo então feito deixava de lado qualquer hipótese da instalação, em Coimbra, de grandes unidades privadas; o que se vê, agora, de repente, é nada menos do que quatro hospitais de grande dimensão, que vêm também comer aqui. E o curioso é que nenhuma destas iniciativas privadas vem apresentar uma oferta diferente. Pelo contrário. Só vêm procurar comer à mesa do orçamento do Estado. Quando tanto se fala em subsidiodependência, nós onde vemos mais dependência de subsídios é mesmo nas empresas privadas que prestam serviço público nas áreas da educação ou da saúde, sempre dependentes dos nossos impostos.

Como é que um homem de cultura avalia o estado da cultura, em Coimbra?

O que falta, sobretudo, é dinheiro. Quando os orçamentos da cultura são sistematicamente cortados, não podemos nunca ter uma política de incentivo cultural. Nós consideramos que a cultura não pode ser ordenada, pelo Estado, mas tem sempre de haver uma medição que permita incentivar os núcleos que produzem cultura. A democracia cultural é para nós fundamental. Mas ela nunca pode existir sem que haja acesso à cultura. Eu próprio faço parte, por nomeação do Ministério da Cultura, de uma comissão europeia, que tem vindo a tratar, justamente, esta questão do acesso à cultura.

No caso de Coimbra…

Precisamos de olhar para os equipamentos e para os atores que temos de forma organizada e em rede. Agora, não podemos é estar sempre numa postura de dizer mal de tudo. E temos de reconhecer que já temos, na região, uma grande rede instalada, por exemplo para as artes performativas. Só na cidade temos a Escola da Noite, o Teatrão, a Orquestra Clássica do Centro, que faz um trabalho que tem de ser acarinhado, vai arrancar um curso de dança, temos escritores, temos poetas, temos um interessantíssimo curso de Estudos Artísticos, na universidade, temos um conjunto de instituições de educação… Aliás, nós julgamos que há muito por fazer na junção dos ministérios da educação e da cultura, com uma ligação orgânica expressa.

A CDU denuncia a perspetiva economicista com que tem sido tratada a Educação…

Sim. Veja-se esta organização das escolas em mega-agrupamentos, que apenas pretende reduzir lugares. Nós, CDU, já aqui há um ano, creio que em Antanhol, falávamos com uma professora, com as crianças à volta de si, que se lamentava, dizendo: vão fechar-nos aqui a escola, mas o problema é que estas crianças precisam de mim. É claro que todas estas questões da organização e da rede de escolas são dinâmicas, mas não podemos deixar de denunciar a total ausência de lógica humanitária, neste processo de encerramento de escolas.

Educação e saúde são as áreas que mais preocupam a CDU?

A questão da produção é para nós fundamental. Não podemos ser um país autónomo, soberano, se não tivermos produção. A agricultura é determinante, claro. Nós vivemos, aqui no Baixo Mondego, numa zona privilegiada. Outra questão fundamental é a da floresta. Com a razia que o nemátodo vai trazer ao nosso pinhal, vamos ter que ver que alternativa temos. E, se for o eucalipto, vamos ter problemas sérios. Mas também a indústria e temos um exemplo aqui bem perto: os Estaleiros Navais da Figueira da Foz, que estão resumidos a um centro de produção de peças que depois vão ser assembled, como se diz, ou seja, juntas a outras, ali em Espanha.

Não tem sentido falar de indústria sem falar de energia…

Pois. E não podemos deixar de falar na nacionalização das elétricas nacionais, ao contrário do que se prevê. Precisamos de uma política de incremento, que não se faz à custa da política de lucro, puro e simples, mas sim à custa de uma cultura de preço e de incentivo.

E há também a água…

Sim. A água é fundamental, desde logo porque 80 por cento do corpo humano é formado de água. Mas o que vemos é que, como há muito se fala, o grande negócio do século, o motivo das próximas guerras é a água. E isso tem a ver com muita coisa, como a poluição dos aquíferos, mas também com as tarifas e com a capacidade que temos de fazer com que a água seja um bem acessível a toda a gente. O PCP fez, aliás, uma campanha pela água, há pouco tempo, que ainda tem a decorrer.

Como viu as aparentes contradições da cabeça de lista do PS, na questão do Metro Mondego?

Pois, não sabe. E o que tenho medo é que o PS tenha entregado a toalha e confie na solução autocarro. Portanto, a minha suspeita é que, no meio das explicações que lhe deram, sobre o assunto, fixou o autocarro e não o comboio… Se calhar foi. Mas o que é verdadeiramente grave é que, nós, quando defendíamos que o comboio deveria manter-se e a linha ser eletrificada, tínhamos razão, até porque a única valência que estava prevista era a do transporte de passageiros e não de mercadorias.

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