Janeiras

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Começa o ano em Janeiro, mês primeiro e por isso carregado de esperanças com que se envolve o novo ciclo da vida. Entretanto, vamos pedindo aos poderosos o favor de não estragarem tanta confiança, mas isso é algo que acrescento agora. O que o povo canta é algo que abra os cordões à bolsa dos ricos, afagando-lhes o ego e o dos seus. Era assim que há muito se dirigiam ao senhor da terra e dos seus empregos:

– Viva o dono do solar!

Homem bom, santo varão!

Melhor não há no lugar,

Todos dizem, com razão.

Seu filho, moço prendado,

Raminho de salsa crua,

Traz o sol atrapalhado

Quando sai, de dia, à rua.

Bom estudante de leis,

Coimbra não viu melhor;

Dá cartas aos bacharéis,

Fala que nem um doutor!

Agora que os senhores da terra já a abandonaram porque ficou sem préstimo, fruto de políticas que alteraram a forma de produção da riqueza, afastando do mercado os que só têm pequenas produções. Foi o que nos aconteceu com uma política agrícola europeia, que nos impediu de aproveitar os nossos pequenos terrenos para produzir bens agrícolas. São os que agora fazem falta para os que passam fome e também para equilibrar a nossa balança comercial alimentar. Fizeram-no substituindo a produção de alimentos por actividades especulativas que não matam a fome a ninguém. Só geram fluxos financeiros que são ficções criadas no mercado de capitais. E pior ainda, são anomalias que nunca ninguém da governação quer reformar. Dizem só que os mercados financeiros estão sempre certos, mas os livros e revistas de economia mostram como são imperfeitos e levam-nos a muitas irracionalidades como vemos na presente crise financeira.

Obtusamente os governos esquecem isto e, obcecadamente, só querem reformar o mercado de trabalho, agravando as condições de trabalho e dos trabalhadores que a isso são obrigados para salvar os patrões da finança. E estes mostraram uma perversa falta de juízo, revelando as fraquezas nunca ditas mas vistas dos mercados de capitais. Mas, para nos enganar servem os que falam que nem uns doutores, levando todos ao engano de pagarem os seus erros e de todos os outros que raramente se enganam. E neste jogo de enganos participam os que erguem a turba da propaganda social. É gente que obedece aos interesses dos que querem ganhar quase tudo, empobrecendo quase todos.

Ficamos assim indefesos perante os interesses dos que procuram reduzir o peso dos concorrentes nos mercados. É o que acontece quando se alargam os horários das grandes superfícies para além do socialmente admissível. Onde, até, sem respeito por qualquer regra de boa relação entre órgãos legislativos, distorcem a concorrência, mostrando como o governo usa subterfúgios para alterar o funcionamento dos mercados, assim empobrecendo uns e enriquecendo outros. E se esta loucura não parar, qualquer dia voltaremos a cantar as janeiras para podermos comer. Infelizmente, já não haverá senhores da terra a quem as cantar.

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