Celso

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Morreu o Celso.

Foi assim que recebi a notícia em Cabo Verde, bem cedo na manhã de 9 de Dezembro último. Impossibilitado de participar fisicamente no “último adeus”, utilizei o telemóvel para enviar à família o abraço de solidariedade sentida.

Poderia ficar por aqui porque, muito provavelmente, a maioria dos leitores desta crónica não conheceu o Celso Baía. Mais, se acrescentar que o Celso era militante do Partido Socialista, alguns até ironicamente poderão pensar: menos um…

Não. O Celso não era só um militante do PS. O Celso foi o fundador do PS de Arazede. O Celso foi quem propôs a minha adesão ao PS. O Celso foi durante mais de 25 anos o rosto do PS em Arazede. Mas porquê tanto Celso e tanto PS, estarão nesta altura a perguntar mesmo os leitores mais tolerantes?

Numa altura em que alguns estão no PS, e nos outros partidos também, para se servirem, o Celso ensinou-me que um partido político era uma organização cívica imprescindível num estado democrático para pensar o país. Assim, um militante do PS deve ser, antes de tudo, Português. Isto é, deve, primeiro, pensar em Portugal no seu todo, muito concretamente, em todos os cidadãos desprotegidos e, especialmente, nos que não têm voz, nem quem os defenda. Depois, um socialista militante deve respeitar as decisões do partido, legitimamente sancionadas pelos órgãos próprios, sem nunca deixar de defender os seus pontos de vista, porque, como ele dizia, “a maioria só tem o direito de governar, não tem o direito de ter razão”. A seguir, um socialista deve olhar para o lado e perceber se o seu concidadão precisa de ajuda e, sem hesitar, facultar-lhe as ferramentas para que o próximo ultrapasse, com êxito, essa necessidade. Só então um socialista pode olhar para si e perguntar: como posso eu melhorar o meu nível de vida, sem ultrapassar ninguém e agora que já todos estão melhor?

Infelizmente, verifica-se que hoje alguns aderem a um partido para, primeiro, quando às vezes não só, “tratarem da sua vidinha” no imediato e, de preferência, para sempre. A atitude de estar na vida pública deixou de ser em função do país e dos outros…

E quando estes valores se começam a perder, certo é que sinto mais a falta do Celso. Claro que já há cerca de dois anos ele deixara de ter a sua intervenção cívica, fruto da doença que o afectava. Certo é que, como sabem alguns, não era fácil de lidar com o Celso. A energia que ele colocava nas suas causas era desgastante: para os outros, para quem lhe estava próximo e, mesmo, para ele. Não raramente destruía o que ele próprio queria construir, fruto de só saber estar nas coisas a 120%. Mas o Celso era daqueles que preferia ficar nu para que o outro tivesse uma camisola…

As nossas opções partidárias nem sempre foram coincidentes. Às vezes divergimos profundamente. No discurso formal de comemoração do 25 de Abril, em 2003, disse/escrevi, mesmo: “uma referência especial é devida a Celso Baía, um Homem que, à sua maneira, me ensinou um pouco do que é a democracia e, muito, do que é o Partido Socialista, apesar de, não raras vezes, discordarmos sobre os métodos e as formas como se tem posicionado o PS de Arazede nas conjunturas local, municipal, distrital e, até, nacional.”

Mas porque a solidez da nossa amizade era resistente a terramotos, honra-me recordá-lo nesta crónica, sobretudo num momento em que os valores em que acreditava, e praticava, são, muitas vezes, esquecidos.

Até um dia camarada…

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