Silêncios

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A propaganda é um adversário da democracia. Os últimos dias mostram-no bem.

Anunciadas as severíssimas medidas de austeridade pelo Governo, os órgãos de comunicação empenharam-se em convencer-nos de que se trata de inevitabilidades e abdicaram de promover debates com opiniões contrárias sobre as opções económicas e sociais para o país. O que se viu foi um confronto entre os que concordam muito e os que concordam muitíssimo com a austeridade. Como se não houvesse opiniões fundadas que a contestam. Como se toda a contestação fosse irracional e, portanto, desqualificada.

E, no entanto, fazem-se hoje sentir cada vez mais vozes de economistas que denunciam a passividade política perante a volatilidade dos mercados financeiros, o erro catastrófico da desigual distribuição dos sacrifícios e os efeitos extremamente nefastos das políticas de austeridade para a urgente recuperação das nossas economias afundadas o pântano da recessão. Este silenciamento da diversidade de opiniões obedece a uma lógica: essas são vozes que importa calar para que tudo fique na mesma.

O pluralismo de visões da economia – quer no que toca às suas dimensões sociais quer no que respeita às suas relações com o poder político – é hoje o ponto onde se joga mais intensamente a força das democracias. A uma comunicação social que honre o princípio republicano do serviço público exige-se que escolha o pluralismo contra o silêncio.

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