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Violência contra profissionais da saúde: um problema estrutural

05 de novembro às 11 h31
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A violência contra profissionais da saúde é um fenómeno preocupante, que compromete não só a integridade física e psicológica dos trabalhadores, mas também a qualidade dos cuidados prestados. Médico(a)s, enfermeiro(a)s, técnico(a)s e auxiliares enfrentam situações de violência verbal, física e psicológica.

A prestação de cuidados de saúde — que deveria constituir um espaço de cuidado e confiança — tornou-se, em alguns contextos, um cenário de tensão e hostilidade.

Ao centrar o olhar nos doentes e familiares, percebe-se que as causas da violência são múltiplas e complexas. A sobrecarga dos serviços de saúde, a escassez de recursos humanos e materiais, os tempos de espera prolongados e a desinformação, alimentam a frustração dos utentes.

A isto soma-se uma crescente desvalorização social — a merecer também uma reflexão — do papel dos profissionais de saúde, frequentemente vistos como representantes de um sistema que falha em responder às expectativas. Em consequência, a violência torna-se uma forma de descarga emocional – injusta mas, infelizmente, cada vez mais normalizada.

As agressões não se limitam ao corpo; a violência psicológica — insultos, ameaças, humilhações — é a mais frequente e, paradoxalmente, a mais invisível. O seu impacto é profundo na saúde e no bem-estar destes profissionais, corroendo a motivação e a empatia, pilares fundamentais da relação terapêutica, a par de sérias repercussões na vida pessoal, familiar e social.

Perante este cenário, torna-se evidente que a violência contra os profissionais da saúde não é apenas um problema interpessoal, mas um reflexo de disfunções mais profundas nos vários subsistemas associados.

Promover mudanças exige políticas de prevenção eficazes, onde, para além da capacitação dos profissionais, é essencial criar mecanismos de denúncia e respostas céleres, que previnam a revitimização e assegurem sanções exemplares para as pessoas agressoras, bem como condições de trabalho seguras e humanizadas. A segurança e bem-estar dos profissionais devem ser encarados como parte integrante da qualidade assistencial.

A sociedade precisa igualmente de repensar o modo como vê o trabalho em saúde. O profissional da saúde não é o rosto do sistema, mas alguém que, muitas vezes, trabalha no limite do esgotamento para salvar vidas. Respeitar quem cuida é o primeiro passo para um sistema de saúde mais humano, justo e sustentável.

A violência contra profissionais de saúde é, em última análise, o sintoma de um sistema em crise. Preveni-la é proteger não apenas quem cuida, mas também quem precisa de ser cuidado.

Autoria de:

João Redondo

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