Sérgio Godinho: “Coimbra é uma cidade que está cheia de contradições”
Esteve na Feira do Livro para uma sessão autógrafos. Já vai no seu terceiro romance.
Sim. Este é o meu terceiro romance, a que se antecedeu um livro de contos – “VidaDupla”, depois o “Coração Mais Que Perfeito” e “Estocolmo”. E agora este: “Vida e Morte nas Cidades Geminadas”. O ponto de partida para este último romance foi o conceito das cidades geminadas e das geminações de pessoas, também no sentido de afinidades e de pontos de encontro. Fala de uma rapariga que é de Guimarães e que emigra com os pais para uma cidade que é, de facto, geminada com Guimarães, que é Compiègne. É uma cidade que fica a 90 quilómetros de Paris, e que eu achei que seria um bom exemplo de cidades geminadas por eu ter sido também emigrante em França. Vivi quase seis anos em Paris, parte do meu exílio foi feito em Paris e os meus dois primeiros também foram gravados aí. As personagens têm 21 anos. É um encontro, e um grande amor, de duas pessoas que são bastante diferentes: a Amália é fadista amadora em Compiègne num resurante chamado “A Casa Portuguesa”. Ela está a estudar hotelaria e conhece este rapaz, o Cédric, que trabalha numa morgue.
Porquê uma morgue?
Há aqui uma espécie de jogo de contrastes porque a Amália regressa a Guimarães, onde dirige um hotel depois dos estudos em hotelaria. E o hotel é um local de passagem para as pessoas, não é um sítio onde se fique. E uma morgue é também um local de passagem para os mortos, não é um sítio onde se fique. Mas há este encontro um bocado fulgurante entre duas pessoas que descobrem que também que são do mesmo signo (Gémeos), que são do mesmo dia e que, no entanto, são extremamente diferentes. Depois são todos os amores e desamores que a vida, e muitas vezes a distância, também traz. Partilham as mesmas perplexidades, a mesma busca por uma identidade e a mesma sede de amor, entrando em conflito com o passado e com o presente.
Que lugar assume a escrita na sua vida?
À parte das canções (continuo a praticar as canções, sobretudo ao vivo, e este ano tem sido riquíssimo nesse aspeto também devido ao facto de serem os 50 anos do 25 de Abril), há vários anos que eu também estou muito fixado na ficção narrativa. Foi como que uma voz criativa que eu fui descobrindo até com alguma surpresa para mim. Quando eu terminei os contos “VidaDupla” descobri essa voz criativa e tive necessidade de ir para algo mais ambicioso a nível de consistência, ou seja, de um romance. E desde aí… Aliás, a seguir a este já tenho uma série de contos feitos, mas é algo que ganhei, que não me abandona e que me dá um grande prazer.
O primeiro livro foi em 2014. Portanto, iniciou-se nesta vertente há 10 anos. Nestas obras há sempre um lado autobiográfico?
Talvez, de um modo muito lato. Mas eu gosto de inventar e de compor personagens que são diferentes de mim. E isso é também a essência da ficção.
Pode ler a entrevista completa na edição impressa e digital do dia 24/06/2024 do DIÁRIO AS BEIRAS