Opinião: Todos por ti (capítulo1)
Um projecto de organização, com um método global de diagnosticar e tratar centrando o doente no processo da Saúde.
Uma história como exemplo. – O que o traz aqui? – É uma ferida crónica numa perna. Tenho isto há dez anos. – Mas o Senhor é obeso, tem diabetes, tem hipertensão, tem uma hérnia do umbigo. Isto além da sua Úlcera Varicosa. E os dentes meu amigo? Dos dentes não vamos falar? – Bem doutor, isto há aqui muita coisa para resolver. – Suponhamos uma sequência de tratamento que vai das unhas com fungos até à diabetes. Que lhe parece? – Como assim? Tudo de uma vez?
All 4 U (Todos para ti) começa num atendimento global que coloca todas as doenças numa lista de problemas, indo da mente ao corpo e deste à inserção social.
All 4 U (Tu com todos) é um projecto para o doente, que o observa de modo global e constrói a logística de resolução de problemas com vista à vida saudável.
All 4 U (Todos por ti) é centrar a saúde no doente e não nas instituições e nas pessoas, ou profissionais, que gravitam em torno dele. O doente traz a sua história, e com ela, um profissional devidamente qualificado faz a observação e elenca os problemas.
O profissional elabora a lista de temas a discutir e o doente é apresentado à decisão multidisciplinar para conceber um programa. Na história descrita, podíamos abordar com vários modelos. Tratar a obesidade resolveria com facilidade a hipertensão, a diabetes, e melhoraria as úlceras dos membros inferiores. Mas optaríamos por tratamento médico? Treino físico? Cirurgia? A discussão teria que envolver o doente conhecedor das hipóteses em jogo e das suas consequências.
Antes de qualquer cirurgia seria bom tratar-lhe os dentes para diminuir o risco de pneumonia numa entubação orotraqueal. Esta consulta teria por objectivo o conceito de all in 1 (todos de uma vez), que pretende criar sequências de tratamento mínimas, para a estadia em internamentos curtos ou ambulatórios.
All in 1 (tudo ao mesmo tempo) baseia-se num conceito de reduzir os tratamentos a um gesto idealmente único.
A escada de tratamento para conseguir o all in 1 pode ter vários degraus, que nem sequer envolvem médicos, mas sim profissionais de áreas direcionadas aos problemas elencados. A cuidadora, que condiciona a obesidade do filho ou do idoso. A preguiça e o sedentarismo das pessoas, que não se cuidam. Tratar também a envolvência social para conseguir tratar o doente.
Suponhamos que o exemplo usado é o cuidador de um acamado. E suponhamos que o mesmo exemplo vive em condições muito precárias. Primeiro teria de ser criada a condição para o acamado ser cuidado e a casa beneficiar de algumas condições de adaptação ao programa. Tratar em casa – apostar no domicílio e não nas redes de negócio construídas após encerrar os Serviços de atendimento permanente em 2007.