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Opinião: Falemos de incêndios todo o ano!

12 de setembro às 11 h36
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O nosso país voltou a conhecer o flagelo dos incêndios florestais neste verão, sendo que, ao dia de hoje, ainda estamos dentro da estação e do período mais crítico e de maior vulnerabilidade para o efeito. Por isso, é tudo ainda muito recente, nomeadamente quando as marcas deixadas nos meses mais quentes deste período foram tão devastadoras. Em vidas humanas (mortos e feridos), em bens materiais (de todo o tipo), em vida animal (doméstica ou selvagem), no coberto vegetal, principalmente este, com os milhares e milhares de hectares ardidos um pouco por todo o território, com maior incidência na Região Centro, tradicionalmente mais afetada. Independentemente de números mais ou menos avassaladores, que exacerbam o drama e atraem o denominado “circo mediático” a cada ano, é sempre uma tragédia quando se perde uma só vida humana ou animal, uma casa de família, uma árvore que seja! É esta a noção que devemos ter e não banalizar estes acontecimentos, porque também repetitivos, e que vão criando em nós, como outros dramas da vida, no país e no mundo, um cada vez maior grau de insensibilidade. Não seríamos tão insensíveis se passássemos pelo que passam muitos dos nossos concidadãos quando o fogo lhes entra pelas terras e casas adentro, fogo não mediado pelos diversos tipos de ecrãs a que hoje temos acesso, fogo real!
Dizia, é tudo ainda muito recente, mas nota-se que a comunicação social já “desligou a ficha” do tema – sabemos bem qual é a regra, se não está a acontecer, se não é trágico, não é notícia. Em parte, compreende-se, pela lógica comercial do setor, mas deveria haver também aqui um pouco mais de pedagogia, outra forma de estar, outra forma de atuar, a responsabilidade social não pode estar arredada destas instituições, que tão grande impacto têm nas pessoas, nas comunidades.
No 35º Aniversário da Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra, em finais de novembro de 2024, elegemos duas corporações de bombeiros da cidade para as homenagens institucionais que, por vezes, fazemos nesta efeméride. A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Coimbra e a Corporação de Bombeiros Sapadores de Coimbra. Para além do simbolismo óbvio desta homenagem, incontestável, foi nosso propósito que se falasse dos bombeiros fora do tradicional período de verão, procurando lembrar que é no inverno, como muito se diz, mas pouco se pratica(!), que se planeia, prepara, previne e começa, verdadeiramente, a combater os incêndios florestais. Como instituição ligada ao Turismo, quisemos que aquele momento simbolizasse também um agradecimento a todos os bombeiros do país que, ainda que com as limitações que são conhecidas, ajudam, igualmente, a defender a atividade turística, em particular nas regiões mais desfavorecidas socioeconomicamente, quando defendem o nosso património natural e histórico, infraestruturas em geral, e, acima de tudo, as pessoas, aqueles e aquelas que com uma tremenda resiliência ainda vivem e vão investindo no interior de Portugal (mas até quando?), muitos através de empreendimentos turísticos de diversa tipologia, contribuindo, à sua medida e dimensão, para que o desequilíbrio de desenvolvimento litoral-interior, histórico e estrutural no nosso território, não se acentue ainda mais.
Lembremo-nos, é agora, de outubro a maio, que devemos falar em combate aos incêndios florestais, para que quem de direito nos ouça e para não termos de falar depois. Sim, falemos de incêndios todo o ano… para deixarmos de falar!

Autoria de:

José Luís Marques

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