Opinião: Alojar estudantes de forma solidária
Como sucede há décadas, após um mês de Agosto em que Coimbra, a “Cidade dos Estudantes” (cerca de um terço dos habitantes), vive mais vagarosa, eis que aí está o início de outro ano lectivo. E toda a área urbana volta a fervilhar, com gente nova a querer descobrir recantos e experimentar encantos…
A par desta alegre vaga juvenil, existe uma outra realidade, nada feliz, que envolve muitos que se vêem impedidos de prosseguir os estudos, pois as suas famílias não têm meios para fazer face às despesas inerentes à frequência de um curso superior.
Porque, para além das propinas, dos livros e de material escolar diverso, é preciso que os estudantes suportem outros custos, indispensáveis para a sua subsistência. Desde logo a alimentação – embora seja um aspecto em que as várias cantinas dos Serviços Sociais constituem excelente apoio, proporcionando variadas refeições a preços módicos.
Coisa bem diferente sucede com o alojamento.
As residências estudantis ligadas às escolas são escassas e têm um número de camas muitíssimo inferior às necessidades.Tal como as tradicionais “Repúblicas” coimbrãs, pois embora estas alberguem, no seu conjunto, algumas dezenas de estudantes, não conseguem dar resposta às muitas solicitações de ingresso que recebem todos os anos.
Até há pouco, o mercado de arrendamento era a única alternativa, e muitas famílias de Coimbra arrendavam quartos nas suas residências, a preços relativamente acessíveis.
Mas depois do surgimento das vagas turísticas e da correspondente “explosão” dos AL (“Alojamento Local”), a habitação disponível escasseia e os preços dispararam – quer se trate de apartamentos, quer seja um modesto quarto em casa particular.
Assim, grande número de famílias não consegue enfrentar tamanha despesa, pelo que muitos jovens se vêem forçados a interromper os estudos – para desgosto dos próprios e dos seus familiares, mas também com prejuízo para o País, que assim fica privado de futuros profissionais competentes em diversos sectores de actividade.
Mas há, para alguns desses, uma alternativa, num projecto designado por “Abraço de Gerações” a que já aqui aludi há uma ano.
Trata-se de uma iniciativa conjunta da ACERSI (Associação das Cozinhas Económicas Rainha Santa Isabel), da AAC (Associação Académica de Coimbra) e da AAEC (Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra).
O objectivo é que pessoas com mais de 65 anos, sobretudo as que vivem sós, cedam um quarto de suas casas a jovens estudantes, a troco de companhia e de pequenos serviços (como, por exemplo, ir às compras, acompanhar ao médico, ir ao correio).
Os estudantes têm, assim, a possibilidade de conseguir alojamento que lhes permita continuar os estudos, ao mesmo tempo que estão a desempenhar um papel solidário, que enriquecerá a sua formação humanista.
Quanto aos seniores, é uma oportunidade para obterem apoio e companhia, ao mesmo tempo que estão a ajudar jovens a prosseguir os estudos.
Refira-se que quer os seniores, quer os jovens interessados em aderir a este projecto devem inscrever-se, ligando para o telemóvel n.º 969372028, havendo depois um trabalho de selecção e esclarecimento a cargo de psicólogos.
Já há vários casos de integração bem sucedida, esperando eu que muitos mais se disponham a dar este “abraço de gerações”.