Opinião: Darwinismo digital

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A teoria evolucionista proposta por Darwin, naturalista britânico, que ficou conhecido pela obra “A origem das espécies por meio da seleção natural”, publicada em 1859, explica os mecanismos que impulsionam as mudanças das espécies ao longo do tempo, e que contribuem para o aparecimento de novas variedades. Um dos pontos cruciais do darwinismo é a ideia de seleção natural. Com efeito, os indivíduos acabam por herdar uma série de atributos que viabilizam uma maior oportunidade de desenvolvimento e evolução, transmitindo essas características diferenciadoras aos seus descendentes. Em contrapartida, outros têm menos ensejo de sobrevivência e reprodução. Neste sentido, as sucessões de ancestrais levam à modificação das espécies ao longo do tempo. A ideia subjacente ao fenómeno, assente no facto de que os organismos se transformam ao longo do tempo, é que o meio, por ação da seleção natural, seleciona os organismos mais adaptados, ou seja, os que apresentam melhores hipóteses de sobrevivência e reprodução, transmitindo essas peculiaridades aos seus descendentes. Como Darwin não detinha capacidade cognitiva sobre genética, não compreendia como é que as aptidões, os traços e as idiossincrasias eram passadas para as gerações seguintes. Deste modo, o neodarwinismo, completa a teoria de Darwin, com as importantes leis de Mendel, instrumentos que explicam as mudanças. Esta evolução da teoria surgiu no século XX, sendo considerada, em termos comportamentais, a ideia evolucionista mais robusta.
A metáfora anteriormente referida, aplicada ao digital, tem implícita a ideia de que a sociedade e a tecnologia estão a conhecer evoluções aceleradas, relativamente à capacidade das organizações para se adaptarem à mudança. O que impulsiona uma nova era de liderança, sobretudo de teor algorítmico, que significa, segundo Klaus Schwab, fundador e impulsionador do World Economic Forum, o aparecimento de uma nova geração de negócios, caracterizada pela mantra “adapte-se ou morra”. Posto isto, é indispensável acelerar os novos e disruptivos modelos de negócios, que utilizam ferramentas digitais para reunir múltiplos dados de pesquisa para satisfazer a promoção do poder e autoridade da experiência do cliente, cada vez mais exigente e hiperconectado com o mundo digital. De facto, as ideias de Darwin revelam uma contemporaneidade manifesta, ou seja, “as espécies que sobrevivem não são as mais fortes, nem as mais rápidas, nem sequer as mais inteligentes, mas aquelas que melhor se adaptam à mudança”.
A mudança tecnológica explicará a extinção de muitas empresas que não conseguem adaptar-se. Deste modo, a transformação digital é a chave para o problema, e significa a conversão das empresas analógicas em entidades digitais, nas quais o software assume a parte inteligente e determinante na universalidade dos processos. No entanto, investir em tecnologia, para acrescentar software a um processo obsoleto, não é digitalizar. É indispensável a intervenção da reengenharia que, ao redesenhar os processos chave dos negócios, ambiciona alcançar melhorias relevantes no desempenho, o que significa reinventar os processos na sua integralidade, o que representa desfrutar de todas as novas possibilidades e oportunidades oferecidas pela nova era digital.
No mundo dos algoritmos, a tomada de decisão é um alvo em movimento, atendendo a que as regras e os objetivos se encontrarem em contínua mutação e, neste sentido, as empresas com êxito não são aquelas que se guiam por meros indicadores financeiros, mas que se adaptam incessantemente à incerteza, ao risco e ao imprevisto. Ou seja, a maioria das empresas tem como objetivo estratégico ganhar uma vantagem competitiva duradoura e incrementalista, assente em ajustamentos periódicos da sua estratégia, direção e estruturas organizacionais. Como a mudança é veloz, como é que um ciclo de planeamento estratégico curto e médio prazo podem ser relevantes?
De facto, a vantagem competitiva sustentável não depende exclusivamente de fatores quantitativos, de escala ou da capacidade de produzir pensamento evolutivo pela gestão da empresa. Esta deve sobretudo aprender a fazer coisas novas, ter capacidade para ler os sinais e agir, ter habilidade para experimentar e gerir sistemas complexos e, por fim, fomentar a mobilização, o que significa incentivar os seus melhores talentos. Assim, o conceito de darwinismo digital baseia-se na teoria da evolução de Charles Darwin, e assume-se como metáfora adequada para representar a competição empresarial na era digital. No mundo dos negócios, a capacidade de adaptação às mudanças tecnológicas é importante para evitar o risco das empresas de se tornarem irrelevantes. Como sugere Marc Benioff, fundador e CEO da Salesforce, o “sucesso na era digital não é a dimensão, mas ser ágil e rápido. As empresas necessitam de evoluir rapidamente para sobreviver. Para isso, é importante que adotem uma cultura de inovação e adaptação, o que significa estar sobretudo atento às novas tecnologias e identificar oportunidades e assumir os riscos. As espécies de Darwin são agora as “empresas” e a sua evolução está progressivamente a traduzir-se num tipo de darwinismo digital, considerado um fenómeno global que vai eliminar múltiplas e diversificadas organizações e facultar a outras elevadas quotas de mercado, situação passível de afetar a ordem geopolítica mundial, centrada nas relações entre os EUA e a China, que lutam continuamente pelo controlo dos dados. A transformação digital intensifica o processo de maturidade digital das empresas, que significa habilidade e capacidade para agilizar as organizações. Outrossim, as tendências para a digitalização obrigam as empresas a pensarem de forma mais radical e agirem de forma evolutiva às necessidades de utilizar novas tecnologias. A evolução não é só investir em tecnologias, mas, sobretudo, desenvolver novas formas de interagir com elas para obter uma maior eficiência, eficácia e economicidade para a organização. Para lograr este objetivo ambicioso, muitas empresas já assumiram a importância de evoluir em termos digitais, destarte, a conversão digital não atingirá o seu objetivo central se não adaptar, como estratégia vital do negócio, a ótica customer centric, ou seja, posicionar o cliente no coração da empresa.

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