Opinião: A liberdade não tem preço. Terá um custo?

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Dentro de poucos dias comemoraremos os 50 anos do 25 de Abril. Uma das datas mais importantes de nossa história. A data mais importante da nossa democracia. Mas passado quase meio século, há ainda motivos para festejarmos a liberdade? Há. Há e é bom que haja sempre!
Com um afastamento temporal logicamente cada vez maior, somos cada vez mais os Portugueses que têm do 25 de Abril apenas o retracto histórico. Aquele partilhado pelos nossos familiares e amigos mais velhos, o retractado pelos diversos meios de comunicação social sob formato de filme, de documentário, de notícia histórica para enfatizar o passar dos anos sobre esta data. E será a geração pós 25 de Abril capaz de valorizar devidamente esta data? Se não é, devia. Se não é, é porque não quer. Mesmo para os mais desinteressados e desconhecedores das conquistas de Abril, se de outra forma não for, num dos contínuos scroll´s de dedo no ecrã nas redes sociais ou na internet de um qualquer smartphone, encontrarão informação suficiente para respeitar e comemorar Abril. Se ainda assim não for suficientemente motivador o que lêem, pensem que sem o Abril de 74, os smartphones até poderiam existir, mas as opiniões livres, essas não. Aí ganharão seguramente a motivação necessária para entender a dimensão e a importância da conquista em causa. O múltiplos milhões de partilhas e de comentários diários nas tão usadas redes sociais, sem liberdade, seriam uma miragem. Mais que um golpe militar, como afirmou Francisco Sá Carneiro, “o 25 de Abril foi, para todos nós, o fim da ditadura. Os heróicos militares que prepararam e executaram a revolta realizaram um acto de libertação de si mesmos, mas consigo mesmos quiseram libertar Portugal inteiro.”
O Abril que temos e devemos comemorar é ainda assim um Abril em muito diferente do que em determinados momentos, na nossa sociedade actual, podemos constatar. A afirmação de libertação de um povo, que permitiu daí em diante uma evolução política, social e económica que nos levou ao Portugal de hoje, tem tudo de positivo, mas há em determinados assuntos que perceber se o que se discute é realmente a liberdade e a evolução de uma sociedade. Liberdade de expressão que demasiadas vezes se torna liberdade de ofensa. O discurso do politicamente correcto que é, cada vez mais, mais bem aceite que o discurso verdadeiramente preocupado com a nação. Uma liberdade em que cada vez mais pessoas, pelas suas influências, usurpam bens ilegalmente. Como disse Ramalho Eanes aquando do início da comemoração dos 40 anos das primeiras eleições presidenciais, em Castelo Branco, “A República de Abril ofereceu as liberdades, mas esqueceu-se de criar cidadãos”.
A nossa história é “carregada” de momentos de conquista. Sou acérrimo defensor que nada dela se apague. Por muito que, por questões ideológicas, se considere haver momentos dos quais pouco nos orgulhamos – que reconheço que os há –, nada pode ser descontextualizado do momento em que aconteceu e nada deve ser apagado. Querer apagar a história é encurtar o caminho para que ela se repita.
Em termos económicos, Abril permitiu-nos abrir as portas ao mercado Europeu, começando um caminho fundamental de acesso aos fundos da então CEE essenciais para a modernização da nossa economia. Com a adesão em Junho de 1985 à CEE, a economia portuguesa modernizou-se tecnologicamente com especial ênfase para a construção de infra-estruturas, nas comunicações, no audiovisual e na informática. As PME´s Portuguesas cresceram exponencialmente, tal como as exportações (mais de 75% do total, para a Europa) e consequentemente o nosso PIB.
As conquistas de Abril são inegáveis. As conquistas de Abril não têm preço, mas têm um custo. E esse custo compete-nos a todos: criar os “tais cidadãos”. Cidadão sérios e merecedores da liberdade conquistada em Abril. Cidadãos que se expressem livremente, mas respeitem. Cidadãos que mais que dizer o que é bonito de ouvir, façam realmente o que é correcto. Cidadãos que consigam respeitar e separar o que é seu, do que é dos outros, do que é de todos.
Que o governo recém-eleito seja capaz disso mesmo. Sim, porque se Abril é a liberdade, então Abril não tem dono.
Viva a liberdade! Viva o 25 de Abril! Viva Portugal!

*Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve
segundo o novo Acordo Ortográfico.

Pode ler a opinião de Christophe Coimbra na edição impressa e digital do Diário As Beiras

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