Opinião: Esperando o correio

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Nunca me alongo muito em discussões sobre política nem sou filiada em nenhum partido político. Já votei em diferentes partidos, da direita à esquerda, consoante o que me pareceu na altura. Votar, esse direito que me foi concedido sem condições, por ser mulher, apenas depois do fim da ditadura.
Julgo que não é com uma conversa que se alteram mentalidades. Só lá podemos chegar com educação. E a chave para o desenvolvimento, essa educação, não aparece num minuto. Educação na escola, em aulas de história mas também em todas as outras disciplinas. Mas muita educação também de casa.
Cresci a ouvir relatos de como a vida era diferente antes de 1974. De como, até nas aldeias mais pequenas, não havia liberdade para expressar opiniões. Estórias de um bisavô instigador da liberdade. De um casal de namorados (os meus pais) que iam sendo presos por se beijarem dentro de um carro. Ouvi histórias de mulheres que não podiam viajar sem autorização do marido. De lojas desprovidas de produtos importados do estrangeiro. De pessoas que viviam mal, mas muito mal.
Agora esperamos pelas cartas dos emigrantes, cujo voto (ignorado – quase desprezado – e residual até hoje) se tornou repentinamente importante. Pelo que tenho visto e ouvido nas comunidades emigrantes da Bélgica, os resultados infelizmente não trarão nada de diferente. O que para mim é ainda mais chocante, vindo de emigrantes – pessoas que saem do seu país de origem para procurarem uma vida melhor noutro país, pessoas que sabem como é difícil abandonar as raízes para enfrentar uma realidade nova e diferente, pessoas corajosas que tudo deixam para procurar um futuro melhor. Um povo de emigrantes como o povo português, com gigantes comunidades por esse mundo fora, não poderia esquecer isto! A pobreza é terrível, mas a pobreza de espírito é o pior dos males.

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