Opinião: A reforma… O envelhecimento

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A envolvência que enquadra o envelhecimento, como a família, a comunidade, a sociedade em que o processo ocorre, exercem um impacto enorme na forma como se envelhece. Não interessa discutir se mercê do desenvolvimento de novos medicamentos, se mercê dos melhores cuidados de saúde, se mercê da melhor qualidade de vida, o número de idosos aumentou, e não só apenas em termos relativos com os outros escalões etários. Em Portugal há mesmo já cerca de 2,5 milhões de idosos (mais de 65 anos)! Quer isto dizer que em Portugal há cada vez mais idosos … porque a longevidade dos reformados vai também aumentando!…
E que tipo de vida tem um português logo após a sua reforma? E que tipo de vida tem um português à medida que vai envelhecendo?… Depende … responderão muitos dos leitores!… O assunto do envelhecimento após a reforma é simultaneamente pragmático e ideológico e mistura-se com interesses económicos muitas vezes alheios à maioria dos idosos. É sempre uma nova vida na relação com a família, com a comunidade, com a sociedade … e quase nunca nem a família, nem a comunidade, nem a sociedade, nem as políticas públicas estão preparadas para apoiar e integrar essa nova população. E, no nosso País, investe-se em cuidados de saúde, em cuidados neonatais, em cuidados com a infância … e muito bem!… Só não se entende porque se não investe na prevenção dos problemas pós-reforma e do envelhecimento!… Porquê esta falta de políticas públicas de Saúde e Sociais!… Em Portugal, ao contrário do que acontece noutros países, sobretudo no Norte da Europa, onde está essa integração de políticas de integração do Serviço Nacional de Saúde com o da Segurança Social? Estas políticas raramente se tocam, muito embora todos saibam que os idosos necessitam quase sempre de mais cuidados de saúde e de mais apoio social … convergentes ou ao mesmo tempo, complementares.
O Governo vai responder a esta problemática dizendo “a estratégia nacional existe”. Infelizmente serei obrigada a perguntar: Se já existe, onde se situa o terreno onde já existe uma tal estratégia? Acções isoladas, pontuais?!… Não chegam a sítio nenhum e “não continuem a tapar o sol com a peneira” porque, felizmente, ainda não morreram todos os que ousam saber pensar neste País! De uma vez por todas, reconheçam que em Portugal, a população reformada e a população envelhecida estão sempre muito sozinhas:
Após a reforma, há sempre um choque, para alguns reformados difícil de ultrapassar … o passar de uma fase em que estão a contribuir para a sociedade para outra em que são menos valorizados … ou eles próprios se sentem inúteis. Alguns reformados, pela natureza das profissões que exerceram ou da literacia que adquiriram, lá se vão mais ou menos adaptando à sua nova situação!… Os mais idosos ficam cada vez mais sozinhos!…
Há que pensar que, na óptica do actualmente designado (e desejado) “envelhecimento activo”, é desejável que a inactividade surja o mais tarde possível. E isso talvez se vá conseguindo se, como se disse já atrás, tal como se investiu em cuidados de saúde, em cuidados neonatais, em cuidados com a infância … não se pensa a sério, se planeia e se investe na prevenção dos problemas pós-reforma e do envelhecimento!…
E não se fale mais em conflitos intergeracionais, em alterações da idade de reforma, em sustentabilidade financeira da Segurança Social. O assunto do envelhecimento após reforma é simultaneamente pragmático e ideológico: Se fomos capazes de pensar na infância (por que passámos) temos também de ser capazes de pensar, seriamente, no envelhecimento!…
A problemática do envelhecimento exige acções políticas e financeiras cada vez mais difíceis. Por isso, os governantes não podem pensar em contracorrente: olhar menos, pensar menos e reflectir menos. É que é o tempo de fazer mais!… Ou melhor: é um tempo em que já se deveria ter feito mais!…

P.S.- Já tinha o meu texto escrito quando li hoje neste Jornal “As Beiras” uma referência ao encerramento do espaço “Atrium Solum”, em Coimbra. Aí está bem claro como o autor via também (e agora sente a falta) um local que, em Coimbra, servia de passeio, recreio e relacionamento social (o não isolamento … o sentir-se vivo…) a reformados e idosos que habitam naquela área.

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