“Só faço receitas para donas de casa”

Spread the love

Nunca exerceu Turismo, em que se licenciou, e a crise de 2008 fechou a empresa familiar onde trabalhava. Ainda estava a tentar perceber o que queria fazer quando recebeu o email que lhe mudou a vida.
“Em janeiro [de 2010] recebo um email da editora e eu não acreditava. Fui a uma reunião a Lisboa a achar que queriam fazer uma compilação qualquer de receitas de bloggers. Saí da reunião e só dizia ao meu marido: “Não vais acreditar… eles querem fazer um livro comigo!”, conta.
Passaram-se 13 anos e acaba de lançar o oitavo: Cozinhar com sobras.
“Há muito tempo que queria fazer um livro de sobras”, mas “tinha receio que fosse mal-interpretado. A questão da sustentabilidade, entretanto, já estava a ser muito falada e tinha de ser agora”, recorda. O conceito “é uma questão de modas”, diz. “A minha avó sempre aproveitou, em casa da minha mãe havia um dia para comer sobras… mas agora, agora vem tudo mascarado com a palavra sustentabilidade e é mais bonito”, afirma, sem “papas na língua”.
A primeira edição, de 3.500 exemplares, esgotou em três semanas. “Isto é para um nicho de mercado, mas tenho noção de que tenho um público largo e, à partida, vai vender bem”, admite.
Segredo do sucesso? “Eu digo sempre que só faço receitas para donas de casa. Pessoas que cozinham, todos os dias, para a família e e para receber os amigos”, explica.
Sabe que “hoje quem quer ver receitas vai ao Google” e “não é preciso comprar livros”. É por isso que, diz, “têm de ser diferenciadores por outra coisa qualquer”.
Para já ainda não tem “ideia nenhuma” para um próximo livro. “Fazer receitas é fácil, às vezes o difícil é a ideia que agregue aquele livro”, diz.

“Não havia livros feitos por pessoas normais”
Em 2011 edita “Feito em casa”, o seu primeiro livro. “Como não sabia se ia escrever mais algum joguei todas as fichas logo”. Por isso juntou as receitas às dicas de economia doméstica, que dava a conhecer em dois blogues: “As minhas receitas e “Economia cá de casa”.
“Não havia um livro de pessoas normais para pessoas normais. Havia a Maria de Lurdes Modesto, livros de chefes, do Manuel Luís Goucha, e pouco mais”, recorda.
“A partir do terceiro ou quarto livro” foi percebendo “o que as pessoas gostavam” e começou também a dar workshops. “Percebi que o que as pessoas querem é isto: receitas rápidas com ingredientes comuns”, afirma.
Com oito livros escritos, três filhos e “algumas árvores plantadas”, ainda que “sem grande jeito para plantas, que morrem todas”, não tem grandes projetos por concretizar. Ainda assim, admite, “gostava de fazer um programa de televisão”. “Acho que podia ser diferente dos mil programas que se fazem”, justifica.

As listas de tarefas
Terá começado a cozinhar “com 12 ou 13 anos” porque “gostava de ajudar a avó e a mãe”.
“A minha deixava listas de tarefas durante as férias”, recorda. “Entre as quais regar as plantas, limpar o pó e também adiantar o almoço”, lembra. “Deixava as quantidades e dizia o que tínhamos de fazer. Depois, ela e o meu pai vinham almoçar a casa e comiam o que eu e a minha irmã fazíamos, estivesse como estivesse”, lembra.
Isto deu-lhe “vontade de experimentar, sem medo de arriscar, e ter alguém do outro lado que comia e dava feedback: “Hoje está um bocadinho insonso…”.
Os livros estão todos empilhadinhos num aparador na cozinha, com ar de quem está ali esquecido há algum tempo. Joana Roque admite: “Às vezes, quando quero uma coisa muito específica, vou ver a receita. Por exemplo, se quero fazer aquelas bolachas de chocolate e manteiga de amendoim… tenho de ir ver as quantidades. Mas, normalmente, adapto em função dos ingredientes”.

Organizada… mas nem sempre
Em 2021 lançou “Cozinha organizada, jantar na mesa”. As dicas sobre organização são uma constante nas redes sociais e nos blogues.“Ser mãe mudou várias coisas”, admite.
“Com três filhos, a hora de jantar pode ser caótica. Quando veio o segundo pensei: não posso sair da cozinha todos os dias às 23H00, por isso, muito da organização foi por causa dos miúdos”, explica.
Todas as semanas planeia as ementas, mas pode haver mudanças de última hora. “Posso trocar o prato de terça para quarta, etc.”, explica.
“Mas às vezes não planeio nada, porque não tenho tempo e não me apeteceu, ou porque estou cansada, ou porque me convidaram para ir a casa de amigos para conviver e é melhor do que estar em casa a fazer ementas”, admite.
No entanto, sabe “sempre exatamente o que está em casa pronto a usar”. “Parto sempre de uma base por isso consigo ter improvisos controlados”, atira.

Filhos “comem de tudo”
Uma das preocupações na educação dos filhos, diz “foi não ter filhos esquisitos”. “Faço pequenas exceções em coisas que sei que não gostam muito e dou-lhe alternativas. Um não gosta de camarões, ou não gostam de tofu por causa da textura… mas, se vem uma feijoada ou uma bolonhesa de lentilhas, todos comem”
“Ah, não gosto…”, temos pena. Comem menos, mas comem o que está na mesa”, diz. No entanto, “não se pode querer que comam sopa ou peixe se não comermos igual. O que vem para a mesa é para todos”, frisa.

 

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.