“Pedrinhas” coloriu o dia de crianças com cancro

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Durante quase cinco anos, Pedro percorreu os corredores do Hospital Pediátrico de Coimbra, numa luta inglória contra a leucemia. Para colorir os seus dias e torná-los mais suportáveis, o menino, que faleceu em março de 2018, fez nascer através do desenho, personagens fantásticas que foi transpondo para o papel: os “Pedrinhongos”.
“Mesmo nos últimos dias, já sem conseguir andar, ele queria ir para a salinha de atividades. Eu não sei se ele teria um objetivo muito claro para os desenhos, mas tinha muito prazer em estar ali, num mundo só dele e deliciosamente mágico”, conta a mãe Ana Brazião, que fundou a cooperativa de solidariedade “Pedrinhas”.
Foi, por isso, o desenho que esteve na base do desafio lançado pela cooperativa aos profissionais do Serviço de Oncologia do Hospital Pediátrico de Coimbra: que pintassem “Pedrinhongos”, para serem oferecidos neste Natal aos meninos internados e em tratamento naquele serviço. Ontem foram entregues os primeiros quadros (de 47) que resultaram deste desafio aceite por todos: assistentes operacionais, enfermeiras, educadoras, médicos, secretárias clínicas.
“Todas nós conhecíamos o Pedro. Por isso, pintámos os quadros refletindo tudo aquilo que ele nos fazia sentir. Foi com muito amor, muito carinho, muita cor – o Pedro tinha muita cor e muita inteligência”, contou Vera Queirós, enfermeira que cuidou do menino durante a doença.
Houve emoções no dia de ontem, vozes trémulas e olhos marejados, mas as memórias não foram tristes.
“Um dia, preparava-o para o levar ao bloco e ele estava a falar sobre peixes. Pelo caminho disse-me: “eu tenho que arranjar um peixe para ti. Tu tens que ser um peixe, mas eu ainda não sei qual é. Eu vou ali dormir e quando eu voltar, já te digo”. Quando fui buscá-lo ao bloco, pensava que ele já se tinha esquecido, até porque tinha sido anestesiado. Quando olhou para mim, disse: “Já sei: és um crustáceo”. Nunca mais me esqueci”, diz, sorriso escondido pela máscara.
As profissionais recordam-se do Pedro como de muitos outros (todos) os meninos que passaram por aquele serviço. E enquanto houver memória, haverá vida.
Presente no momento de entrega dos desenhos, Guiomar Oliveira, diretora do Pediátrico, disse que iniciativas como as de ontem “são fundamentais”.
“Damos um bocadinho de alegria a estas crianças. Estão no seu mundinho de doença e, apesar de tudo, vimos que elas estão felizes. A maior parte delas sorriu. E também são momentos que unem as equipas, que ligam as equipas à comunidade – como é o caso das Pedrinhas”, afirmou.
Do lado de lá da doença, estão profissionais de saúde, os enfermeiros, os médicos oncologistas Combatem o cancro. Dão más notícias. Engolem lágrimas.
Como se sobrevive? “Quando eles entram para a faculdade, quando eles têm filhos, quando casam, e vamos tendo novidades disso. É essa parte que nos faz trabalhar e essa parte que nos compensa as situações menos boas”, conta Manuel Brito, diretor do serviço de Oncologia. “É isso que sustenta as minhas lágrimas”.

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