Bienal Anozero começa no sábado em Coimbra para ajudar “a ver no escuro”

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A bienal de arte contemporânea Anozero é inaugurada às 00H00 de sábado, em Coimbra, numa edição que, apesar de ter como mote a “meia-noite”, não quer iluminar ninguém, antes fazer com que as pessoas aprendam “a ver no escuro”.

A bienal volta a ter como lugar central o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, onde se procura dar voz e visibilidade a outras formas de conhecimento, que não o europeu, branco e masculino.

“A ideia de iluminar, que é uma coisa muito europeia, não nos interessa nada. Queremos talvez, a partir destas obras e destes artistas, aprender a ver no escuro. Aprender a ver de uma outra maneira”, afirmou à agência Lusa Filipa Oliveira que, juntamente com a francesa Elfi Turpin, asseguram a curadoria da presente edição.

Neste ano, três mulheres assumem-se como os pilares da exposição no Mosteiro, Aurélia de Sousa, artista portuguesa do início do século XX, que marca a entrada no espaço, com uma fotografia sua vestida de Santo António, a francesa Sarah Maldoror e a sua primeira curta-metragem, em que adapta um conto do escritor José Luandino Vieira sobre a tortura nas prisões coloniais de Angola, e a senegalesa Seni Awa Camara, com um conjunto de esculturas em terracota, que se assumem como “repositórios de histórias pessoais”, mas também de mitos.

Pelo Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, será possível encontrar obras que procuram derrubar uma linguagem estabelecida pelo patriarcado, uma máquina de fumo de ervas com efeitos hormonais, uma conversa intimista entre um filho e a sua mãe que fugiu de Angola, questões de um jovem poeta nigeriano que abandona a arte para lutar na Guerra do Biafra, uma artista que questiona a ausência de personalidades negras nas representações da cena parisiense do início do século XX, uma instalação que troca o papel por betão para sinalizar o peso da burocracia ou uma obra em que se fala dos efeitos de colonialismo na língua.

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