Opinião: Onde tem andado a Igreja estes dias?

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Estas palavras são escritas no contexto da “primeira pandemia do século XXI”. A parte boa é que já lá vão 20 anos e a parte má é que a seguir à primeira podem surgir muitas mais… Estaremos mais preparados? Não será um exagero dizer que “o Covid mergulhou o Mundo na maior crise dos últimos 80 anos” (Jorge Buescu).
Alguns falam desta pandemia como a metáfora com que se pode encerrar definitivamente o século XX. Um tempo de progresso, de conquista, de produção, de redes… tempo da ciência, da televisão, do chegar à Lua, dos computadores, da criação da internet, dos telemóveis, da mobilidade, da eficiência, das multidões…
Com este vírus percebemos que nesta era de hiperglobalização há enormes fragilidades e inter-dependências. Afinal, tudo pode parar, tudo pode ficar em suspenso, tudo é menos consistente, menos seguro, menos certeza… afinal sozinhos valemos pouco.
Por muito otimista que possa ser o discurso a verdade é que os impactos desta pandemia serão enormes no número de mortos (diretos e indiretos), nas sequelas físicas que pode deixar, no trauma daqueles que não se puderam despedir dos seus entes queridos na hora da morte, nos que perderam o seu emprego (formal e informal), nos que sentem o abandono e a solidão, no aumento das depressões… “Estamos todos debaixo da mesma tempestade” (Tolentino Mendonça), mas uns são mais afetados do que outros.
E a Igreja por onde tem andado estes dias? O que tem feito? Está confinada ou colocou a máscara nos olhos? Onde está a sua capacidade criativa e a sua identidade de ‘peregrinos do eterno’? Está de retiro? Está fechada em casa? Está contaminada ou infetada?
Penso que tem feito o seu caminho. Dentro das suas grandezas e fragilidades tem sido uma presença lúcida e responsável, coerente e consequente: fechou as igrejas antes de lhe ser pedido; celebrou à porta fechada e encontrou meios para estar espiritualmente próxima das pessoas; sobretudo, esteve na linha da frente na ajuda aos mais carenciados e esquecidos.
Na nossa Diocese de Coimbra pensemos no papel da Cáritas de Coimbra com 80 equipamentos, 130 respostas sociais, com ajudas a mais de 4.000 pessoas; pensemos nos cerca de 80 Centros Sociais Paroquiais com os seus lares, centros de dia e apoio domiciliário; no Centro Acolhimento João Paulo II que apoia mais de 200 famílias; no Banco Alimentar; nos Vicentinos… podíamos juntar a Equipa Ergue-te (intervenção junto do mundo da prostituição); o grupo de voluntários Mateus 25 (ligado ao acompanhamento e reinserção dos presos);… podíamos ainda juntar as Misericórdias e a Cozinha Económica. Não dá para imaginar o mundo sem esta ‘presença’ real e concreta.
Claro que há outras estruturas que cuidam e procuram soluções, há outras IPSS, outros organismos e outras forças. Há muitas pessoas que dão o melhor de si na atenção aos mais frágeis. Também incluímos nesse esforço muitas das Juntas de freguesia e das autarquias.
Quando se deixar de falar destas necessidades e já todos estiverem preocupados com a ‘retoma económica’ ou com o número de lugares que se podem ocupar na igreja… (tudo necessário – claro) as instituições referidas continuam a sua missão, em silêncio e quase esquecidas – a lutar todos os dias por ajudas e a cuidar daqueles que são muitas vezes esquecidos. O que fizerdes ao mais pequeno é a Mim que o fazeis – disse Jesus. Eis o melhor caminho para ligar o céu à terra e o quotidiano à eternidade.

Pode ler a opinião de Nuno Santos na edição digital e impressa do Diário As Beiras

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