Opinião – Ao João Ataíde!

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As palavras já foram todas escritas e faladas. Escrevo este texto somente para prestar uma homenagem simples ao João Ataíde. Conheci-o pessoalmente em 2009 quando ele foi eleito Presidente da Câmara da Figueira da Foz. Ele tinha um pouco mais de 10 anos do que eu que, na altura, era um dos mais jovens autarcas do País. Ele era Juíz de profissão, com uma carreira ascendente e respeitável. Sempre afável. Com ele , paradoxal e aparentemente , não havia ansiedades, apesar do exercício da política quando levado a sério ser muito exigente. Participávamos pontualmente nas reuniões do Conselho Diretivo da Associação de Municípios , onde sempre lhe admirei a calma e a forma apaziguadora de equilibrar debates.

Um dia , no Luxemburgo, no âmbito da participação de uma reunião do Comité das Regiões, chegámos ao hotel , depois da viagem de Portugal , tarde de mais para jantar. Conseguimos presunto , queijo e pão. Ficámos ali quase uma hora e o João dominou a conversa. Falou da família , de Coimbra, dos irmãos e nas ambições para a “sua” Figueira da Foz. Discutimos desenvolvimento turístico, património, reabilitação urbana, num ensaio para a reunião do dia seguinte, e houve uma empatia natural. Ficámos próximos.

Falaríamos nos quatro anos seguintes, muitas vezes , sobre projetos , sobre a Figueira , sobre Penela, sobre Coimbra e sobre a Região, partidos políticos à parte porque tínhamos sido eleitos por forças políticas diferentes.

Outro momento que recordo com saudade foi quando falei com o João Ataíde, sobre a rede de castelos e muralhas da linha de defesa do Mondego, que precisava de três cidades para ver a luz do dia. A Figueira da Foz aderiu ao projeto também por causa do optimismo com que o seu Presidente sempre emprestou a todas as causas. Veio a Penela , reunimos e lembro-me de me dizer que deveria ser difícil governar um município pequeno.

Tínhamos muito respeito um pelo outro. O João era uma pessoa educadíssima que estava na vida com alegria. Que gostava de viver a vida. Quando saí do governo, em 2013, telefonou e gritou comigo. Foi a única vez que o ouvi alterado. Não concordava com a minha decisão e achava que o que eu tinha feito “não tinha ponta por onde alguém pegasse”. Mas, teve. Mais tarde, deu-me razão e quando , finalmente em 2017, o caso teve o desfecho final a meu favor, telefonou a lamentar o tempo que tinha passado, mas a relembrar que ele tinha tido razão quando se alterou comigo.

O João era amigo do seu amigo, como gostamos de dizer. Vamos ter saudades dele. Com este texto simples, gostaria de poder apagar alguma da dor dos seus familiares e amigos mais próximos, mas é impossível. Só o tempo ajudará.

O João gostava de falar sobre o sentido do tempo e da vida. Era um Homem culto e com sentido de humor. Era uma pessoa especial que tinha o dom de retirar pressão de situações difíceis.

A sua seriedade e competência vão fazer-nos falta. Até sempre, João. E desculpa, por não termos falado nos últimos tempos. Como dizias às vezes, esta vida toma conta de nós e faz-nos esquecer o que é verdadeiramente importante.

 

Paulo Júlio escreve ao sábado, quinzenalmente

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