Bem perto do Natal – ainda que Natal possa ser todos os dias – existem um sem número de manifestações de agrado e desagrado sobre a actividade do Pais e sobre anossa própria actividade.
Eu recomendaria, nesta quadra ou noutra qualquer, que fizessem um exercício de análise interior para que que os desaires próprios não sejam imputados a alguém.
Há sempre a tendência de encontrar em outrem a culpa para tudo o que corre mal. Há uns, mesmo, que choramingam tanto, que quase me impelem para ir à farmácia comprar-lhes uma chupeta! Se calhar, até açucarada, para acalmar ainda mais a raiva que sentem por quem lhes “dá galo”, ou deitam mau olhado!
A vida é-lhes sempre madrasta, apesar de ainda terem al- guns amigos que lhes “deitam a mão”, em vez dos empurrar borda fora! Como diria Zeca Pagodinho, sambista, “lá vai, lá vai, já lá vai…!!!
A vida constrói-se, como os projectos, com determinação e coragem. Sem medo de errar e assumir os próprios erros, na certeza que errando que se constrói. Mas para tanto é preciso estudar, ler, trabalhar na análise do erro, conversar, tirar dúvidas, e não só estar sentado em certezas que já o não são.
O mundo gira, nunca está tudo no mesmo lugar, apesar de olhar e tal parecer. Como todos nos movemos, tudo está fora do sítio. Para quê tentar recolocar se tal já não é possível? Que perda de tempo!
Por isso, há muitos anos que me delicio com incompetências várias e manutenção do erro. É de “andar aos tombos”! Só que não fico nada satisfeito, porque o mundo está sempre a mudar e poucos se conseguem adaptar.
E é por isso que as ditaduras acontecem. Há quem insista em não sair do mesmo sítio. E quem os devia empurrar, contorna- os, tais rotundas, como se atrás de um não viesse logo outro!
Quando perguntaram a Santo Agostinho o que era o tempo, ele respondeu que “sabia o que era o tempo, mas assim que lhe perguntaram, deixou de saber”! É que para a mente hu- mana a definição de tempo é dif ícil senão mesmo impossível, dado que a maior dificuldade reside no facto de não existir um receptor do tempo, ao contrário do que acontece com a audição, a visão ou o tacto.
A linguagem é um fenómeno importante, determinante e essencial da comunicação. Mas sobretudo quando somos nós próprios emissores e receptores.
Faltará a percepção deste fenómeno a muitos cidadãos, impolutos por certo, mas pouco rigorosos consigo próprios. Se usarem este exercício de forma continuada, perceberiam muito melhor os seus defeitos, poderiam corrigi-los e não “chateavam” quem não tem culpa da sua própria indefinição.
Que o Natal seja uma boa época, não só para “comes e be- bes e vomitas”, mas também e sobretudo para uma análise comportamental.
Poderemos melhorar a nossa intervenção cívica, sobretudo essa, no pressuposto que o respeito pelo outro é muito mais importante do que aquele que deveremos ter por nós próprios.
Ninguém muda o mundo, nem os países, nem as cidades, nem as instituições, mas poderemos mudar, decisivamente, a nossa relação com o mundo… o nosso mundo!
Boas Festas