Opinião: Matos, redução de carga combustível. Centrais de biomassa são a solução? Não

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Tem sido propalado que as centrais de biomassa são amigas do ambiente, que produzem energia limpa e que ajudam a evitar os fogos florestais.

À custa deste “bondade” captaram, ou capturaram, apoios comunitários, subsídios à instalação, preços favoráveis para a energia produzida. O negócio ultrapassou fronteiras e empresas espanholas têm-se vindo a apropriar dessas centrais.

Discordo da “bondade” das Centrais de Biomassa e justifico:
1 – As Centrais de Biomassa produzem uma “energia limpa”?
As Centrais de Biomassa ao queimarem material lenhoso e arbustivo produzem carbono, CO2 , por isso não é uma energia limpa.
Assim não contribuem “para a redução de emissões de CO2”, como por vezes se ouve.
Energia limpa será a das hidroeléctricas, eólicas e fotovoltaicas embora em relação a estas 2 últimas se coloquem outros problemas nomeadamente se a quantidade de energia que foi necessária para a sua produção, transporte e instalação é compensada pela quantidade de energia que irão produzir no seu tempo de vida útil.
2 – Servem para reduzir o risco de fogos florestais?

Este era um dos grandes argumentos para vender uma boa imagem e ideia e captar, ou capturar, fundos e subsídios.

A verdade é que os matos e o estrato arbustivo não são interessantes para as centrais de biomassa porque têm fraco poder calorífico e têm um elevado custo de transporte. No transporte por camião está a levar-se muito ar, mesmo que compactado e essa compactação é mais um encargo e um consumo de energia. Em síntese ocupam muito volume e pouca densidade, pouco peso. Dificilmente são viáveis a mais de 10km. O custo da recolha e transporte nunca compensa o que estão dispostas a pagar por tonelada.

A primeira central a ser construída foi em Mortágua, junto da conduta de gás natural. Na maior parte do ano funcionava a gás e assim passou de contrabando uma central termoeléctrica fortemente subsidiada por fundos que se destinavam à redução do risco de fogos florestais.

Por esses motivos as centrais de biomassa começam a funcionar com material lenhoso, com maior capacidade calorifica e em que o seu transporte tem menor custo porque é maior o peso. Assim, madeira que deveria ter uma utilização nobre ou para aglomerados passou a ser usada para o fim menos nobre, isto é para queima.

Os chamados ecopontos para recolha de sobrantes ou outros materiais não deixam de ser uma forma de embaratecer a oferta e o transporte para as Centrais com mais um encargo para os proprietários e fornecedores. Em Viseu a Câmara decidiu instalar um parque de recolha dos sobrantes da actividade florestal querendo obrigar os proprietários e empreiteiros florestais a colocarem aí as bicadas, ramos e demais sobrantes, com o objectivo de entregar gratuitamente a uma Central de Biomassa. Que grande negócio… para as Centrais.

A melhor solução para a eliminação dos matos é o pastoreio com gado ou o seu corte e enterramento na terra o que pode ser feito com grades ou destroçadores ou por recurso a fogo controlado nas épocas apropriadas com acompanhamento de técnicos especializados.
3 – Garantem a sustentabilidade das florestas?
Bem pelo contrário. A extracção dos matos e estrato arbustivo equivale a uma exportação dos nutrientes o que resulta no empobrecimento do solo e mais tarde ou mais cedo esses solos vão necessitar de adubação/fertilização para poderem recuperar a sua capacidade produtiva.

A ideia que ao retirar-se as cascas e sobrantes da exploração florestal se está a tomar uma boa atitude é errada. Numa árvore os nutrientes acumulam-se na casca; o interior, o lenho, é fundamentalmente carbono retido e a sua composição química é de ligações de carbono, hidrogénio e oxigénio.
4 – O negócio destas energias alternativas
As centrais de biomassa vendem a energia para a rede a mais alto preço com o pretexto de que é uma energia renovável.

Em Espanha, a Empresa de Celulose espanhola, ENCE, passou a designar-se Empresa de Energia e Celulose de Espanha, sendo que na sua fábrica em Huelva só produz energia e passou a fazer plantações de ciclo mais curto com esse objectivo.

Uma Central de Biomassa nas proximidades de Ourense começou a produzir com matos, passou rapidamente para material lenhoso e acabou a queimar restos de plásticos e outros de uma indústria de automóveis.

Em síntese, as centrais de biomassa não produzem energia limpa, libertam carbono, não usam os chamados matos como combustível pelo que não contribuem para se reduzir o risco de fogos florestais, utilizam material lenhoso que deveria ter fins mais nobres e não garantem a sustentabilidade da floresta. São apenas mais um negócio de energia.

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