Opinião – Como achámos o Menino

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Um casal jovem, ele mais velho como dizem convir nesta história, atravessam uma região em continuada desertificação humana, onde poucos seres viventes encontram e onde até as pedras mostram os efeitos maléficos dos fogos, algo que a falta de seres humanos que cuidavam da terra agravou. Só veem a presença de uns burritos mirandeses e umas vaquitas mirandesas a precisar de palha e feno. Quase extintas estão as vacas jarmelistas e com elas os burritos que as acompanhavam no transporte da produção agrícola. É o que agora já não se faz pois um Rei, pouco amante do seu Povo e impiedoso para com os que contrariam, obriga a deixar maninhos os campos antes verdes.
Uma tragédia, mas existe perto um pequeno estábulo abandonado e a ameaçar ruina. É onde mal cabe um burrito mirandês, uma vaca mirandesa e uma vaca jarmelista, que não sabe como veio aqui parar. Juntam-se-lhes umas cabras galegas mais umas cabras jarmelistas que aqui estão para prevenir fogos, tal como manda a modernidade neoliberal que tudo agrava, mas que inventa sempre soluções que tudo pioram, mas sempre prometendo melhorias num paraíso terreal, que destroem mal começa nele a despontar a chuva e o sol. Há ainda uns poucos de pastores que se juntam para adorar o Menino pois se lembram das profecias.
Não falta aqui calor pois o ambiente está cheio de amor fraterno pela Criança que entretanto nasceu e que sabiam ser o Messias há muito anunciado, que ia libertar um povo sofredor de miséria dolorosa e sempre crescente para seu desespero neste confim do mundo onde nada acontece de bom. E precisam dele urgentemente. Espera-se só que do estrangeiro venham uns reis magos carregados de ouro, incenso e mirra que adocem o sofrimento deste menino nascido em ambiente tão agreste e doloroso. Mas estão todos protegidos pelo calor dos animais que por quase milagre aqui se juntaram. Vinham todos em busca de prados verdejantes já que quase não há ninguém que trate deles. Felizmente nem sequer há salteadores neste território de baixa densidade populacional.
Tudo acontece se anteviu “Recentemente, num estudo do Snr. Dr. Mendes dos Remédios, acerca duma coleção de Vilancicos, da Biblioteca da Universidade de Coimbra, anotei mais este semelhável paradigma da cantiga dialogada:
Como achastes o Menino?
Benino.
É seu carinho amoroso?
Piedoso?
É nos extremos constante?
Amante.
Todos:
Por fineza relevante
Nossa esperança se alenta,
Pois Deus nascido se ostenta
Benino, piedoso, amante”.( 1 )

Todos associam benino a benigno e sentem como o menino é piedoso e amante deste povo massacrado por um Rei Herodes que não ama o seu Povo e o faz sofrer.
Todos anseiam por um Menino Benino, piedoso, amante e todos os presente o beijam com devoção e amor enquanto surge um Estrela que o levará para lugar seguro no outro lado da Fronteira.

( 1 ) Santiago Prezado – Auto dos Pastores Brutos para se representar nas Matinas do Natal, Lisboa, 1926, p.74.

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