Opinião: A incompetência crónica do Estado

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As narrativas constroem-se e impõem-se com demasiada facilidade. São também demasiado efémeras, mas é assim que hoje se faz a história, e é assim que se condicionam as escolhas.
A questão territorial está capturada pelo problema dos incêndios e pelas respostas à ameaça que representam, tendo presente o ano de 2017. Percebemos facilmente a complexidade dos problemas e a difícil resolução dos incêndios, mas percebemos também que a sua amplitude se relaciona com o abandono da atividade rural e ausência de alternativa económica, num cenário demográfico de despovoamento e de envelhecimento.
Esta percepção é tão clara que torna ainda mais revoltante a forma indigna como se procuram edificar narrativas que visam no essencial desculpabilizar o Estado e os responsáveis pela administração do território, pela evidente ausência de gestão, e se procura responsabilizar o cidadão ou a inevitabilidade dos factores climáticos.
E tenta-se fazê-lo de todas as formas; primeiro, na incúria e na falta de limpeza da propriedade, e agora, ao longo desta semana, divulgou-se um “estudo americano” cuja tese assenta no número excepcionalmente elevado de ignições que se registam em Portugal e as quais resultariam do comportamento negligente dos portugueses.
Na defesa deste argumento, inventaram-se números. É absolutamente espantosa a forma como se tem procurado colocar o ónus de uma incompetência crónica e continuada do Estado no cidadão comum, suprimindo-se, ostensivamente, a causa dos problemas.

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