Confesso que sofri com a vitória de Trump. Em direto, vi como os estados democratas se inclinaram para a direita populista. As zonas rurais, onde há menos emigrantes, menos crime e mais emprego, são aquelas que votam na xenofobia, nos cortes de impostos aos ricos e na perpetuação de um sistema sem proteção social.
Ou seja, as pessoas votam contra os “medos e fantasmas” que lhes são transmitidos pela internet e a televisão. Este é o monóxido de carbono das democracias ocidentais – chama-se populismo: ganha quem oferece soluções mágicas que resolvam “todos os problemas”.
Nivelar os políticos pela mesma bitola; perpetuar o habitual discurso antipolítica; confundir Obama com Trump, Guterres com Santana Lopes; é um erro que se paga caro. A estratégia antissistema (i.e. antipolítica) de Donald Trump foi essa: “Eu e nós (o povo trabalhador sem educação) contra eles, os políticos”.
Esta dicotomia funciona bem, à esquerda e à direita. Contra a modernidade, desvalorizando as causas e desprezando os desafios ambientais comuns, simplificando o discurso, assim se ganham eleições.
Se desejamos um mundo melhor, mais justo, saudável e solidário, temos que criar um novo discurso, valorizando a política participativa. Os partidos tradicionais têm que assumir uma outra postura, mais aberta, atraindo as pessoas para a discussão da polis.