Opinião – Fogo e rastilho…

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Gil Patrão

Gil Patrão

O Governo criou um Grupo de Trabalho interministerial para “reformar de vez a floresta”, no decurso dum inferno estival pela junção de altas temperaturas – normais em zonas climáticas de características mediterrânicas – com elevadas cargas combustíveis florestais, resultantes de cerca de 60% da área territorial continental ser coberta por florestas, matagais e terras incultas, pelo que diminuir o risco de incêndio florestal vai carecer de medidas preventivas de largo alcance, como retirar carga combustível (matos, copas, ramos e árvores) da floresta, ou destroçar e enterrar a mesma, mas estas medidas têm custos elevados que podem inviabilizar estas ações de exploração florestal, se não se associar o aproveitamento de tal biomassa a actividades que sejam lucrativas, como utilizar esses resíduos para reduzir a dependência energética nacional.
Sendo extraídas da floresta nacional mais de doze milhões de toneladas de pinho e eucalipto por ano, ficam anualmente nos povoamentos florestais mais de três milhões de toneladas de resíduos (copas, ramos e cepos) provindos de árvores abatidas para serem processadas em serrações, fábricas de painéis de partículas, pasta para papel, “pellets” (combustíveis florestais sólidos, triturados e densificados) e demais indústrias de base florestal, pelo que valorizar energeticamente esta biomassa florestal residual geraria uma contrapartida económica para as onerosas operações de extração da floresta, transporte e destroçamento de tal carga combustível.
Como a valorização energética dos resíduos florestais se realiza de forma mais fácil e eficiente em centrais térmicas, que geram calor para aquecimento e arrefecimento de vários fins, do que nas muito mais custosas e complexas centrais termoelétricas que geram energia elétrica para venda à rede elétrica nacional, ou nas que geram vapor e eletricidade em processos de cogeração usados em unidades industriais, e há centrais térmicas adequadas para aquecer água que circule em circuito fechado em redes de aquecimento domiciliário, as nossas autarquias deviam colocar em exploração sistemas aptos a valorizar muitos dos resíduos florestais que nelas são gerados.
Razões pelas quais já podíamos ter em operação centrais térmicas a utilizar resíduos florestais, até porque como o transporte destes, pela pouca densidade, é a mais cara das operações de preparação deste combustível, o seu aproveitamento energético deveria ser feito ao longo do país, perto dos locais da sua formação e dos centros populacionais que pagassem o calor gerado.
Numa só crónica não é possível explanar cabalmente as razões da valorização energética da biomassa florestal residual ajudar a minorar o risco de incêndio florestal natural, mas é de referir que só a força de “lobbies” industriais junto dos governos, e a fraqueza das organizações florestais, impediu já estarem a funcionar mais do dobro das centrais termoelétricas existentes…
Mas o mais espantoso é não haver autarquias, entre tantas fustigadas por incêndios florestais, a investir para terem em operação centrais térmicas de média e grande dimensão, alimentadas com biomassa florestal residual e ligadas a redes de distribuição domiciliária de água quente para aquecer (e arrefecer também) edifícios como paços do concelho, escolas, infantários, lares de terceira idade, piscinas municipais e prédios particulares dalguns agregados habitacionais!
Integrando o Grupo de Trabalho ministérios que tutelam autarquias, ambiente, energia e floresta, talvez desta vez a valorização energética da biomassa florestal residual venha a ter relevo nas medidas de (mais) um novo Plano de Ação, se este for abrangente e houver sensatez!

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