“Espero que o convento tenha um programador e orçamento capazes”

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20-21 LARA POLLET 1

Lara Martins

 

Porquê a música? E o canto, em particular?

Não sei bem responder a essa questão. Eu sempre gostei de cantar e representar; lá em casa sempre se ouviu muita música, principalmente música clássica, mas nunca me lembro de dizer, quando era mais pequena, que queria ser cantora.

Como descobriu, então, que a música seria a sua vida?

As coisas aconteceram por acaso. Entrei para o conservatório, e depois as coisas foram evoluindo até eu descobrir que era isto que gostaria de fazer.

Como foi a vida escolar, no CAIC?

Os anos que passei no CAIC [Colégio da Imaculada Conceição, de Cernache, onde Lara estudou, antes de seguir para o Conservatório de Música] foram muito importantes e determinantes a todos os níveis não só na minha formação académica, mas também no meu desenvolvimento pessoal e humano. Só posso dizer que é um colégio maravilhoso onde existe um verdadeiro sentido de missão e serviço.

O que fazem os seus pais?

O meu pai é médico e a minha mãe, agora reformada, era educadora de Infância.

Que mestres/colegas, na música, quer destacar?

Existem tantos e tantos que provavelmente necessitaria do jornal inteiro! Esta é uma profissão em que estamos em contacto permanente com indivíduos cheios de talento e inspiradores. Todos os dias agradeço pelas pessoas que se cruzam, e continuam a cruzar no meu caminho, colegas,mestres, técnicos; com eles aprendo e me enriqueço como artista e ser humano [em entrevista recente, Lara destacou os professores Maria José Nogueira e António Salgado com quem estudou em Portugal; Laura Sarti, a professora em Londres, e o maestro João Paulo Santos com quem trabalha regularmente].

Quando saiu para Inglaterra e porquê?

Tinha 21 anos, e foi-me dada a possibilidade de estudar numa das melhores e mais conceituadas escolas de música da Europa. Foi um momento em que tive de decidir: ou ficava em Portugal ou aproveitava esta oportunidade única que poderia mudar a minha vida [Lara Martins fez, enquanto bolseira da Gulbenkian, a sua formação na Guildhall School of Music and Drama, em Londres, onde terminou o curso superior de canto, com a mais alta classificação].

Foi difícil, para si, deixar os amigos e a família?

Sim, foi difícil. Parti para Inglaterra sozinha sem conhecer ninguém, para um ambiente altamente competitivo. Os primeiros anos em Londres foram anos de estudo e muita dedicação estava completamente imersa na música, o que ajudava atenuar as saudades da família e amigos [assim que terminou o seu curso, Lara foi imediatamente convidada para integrar o grupo de solistas do Centro Françês de Artistas líricos (CNIPAL) onde foi solista durante a temporada 2002/2003].

Como foi a integração profissional, numa cidade como Londres?

Londres é uma cidade altamente competitiva a todos os níveis e as artes performativas não são excepção. Cantores e atores de todo o mundo tentam a sua sorte nesta cidade, mas obviamente que a oferta é muito menor que a procura. Ao talento temos que juntar sorte e principalmente perseverança. Penso que tive um pouco de tudo: sorte, muita vontade e talvez um bocadinho de talento.

Como foi a sua evolução, no plano profissional?

Tem sido um caminho feito de pequenas e grandes conquistas. Tenho tido a sorte de sempre se terem atravessado no meu caminho oportunidades interessantes que me têm ajudado a progredir como cantora e artista.

Como está a sua relação com Portugal, com Coimbra e com os amigos/família que deixou cá?

Vou muitas vezes a Portugal em trabalho, e aproveito para ver os amigos e a família. A Coimbra, vou essencialmente para visitar a família já que os convites de trabalho para me apresentar na minha cidade, têm sido ao longo destes anos quase inexistentes.

Sabe, com certeza, da abertura, em breve, do futuro Centro Cultural e de Convenções e Espaço Cultural no Convento de São Francisco, com um auditório para 1200 pessoas, fosso para orquestra sinfónica e um dos maiores palcos da Península Ibérica…

Fico muito contente que este espaço vá finalmente ser inaugurado. Coimbra necessitava com urgência de um espaço cultural com condições técnicas para receber grandes espetáculos. O fosso de orquestra irá permitir termos em Coimbra espetáculos de ópera, ballet e outros espetáculos com necessidades técnicas mais exigentes.

Como pensa que este equipamento pode mudar a vida cultural e social de Coimbra e da região? Gostava de ser convidada a cantar lá?

Esperemos que venha a aumentar e dinamizar a oferta cultural na cidade de Coimbra e, obviamente, que gostaria muito de poder apresentar-me neste espaço.

Que lhe apetece dizer sobre o futuro deste espaço?

Esperemos que este espaço venha dinamizar e renovar a vida cultural da cidade. Infelizmente os meios técnicos não são tudo, não sei se já está escolhido, mas espero que tenhamos à frente deste espaço um bom programador com uma equipa e orçamento capaz, para que possamos finalmente ter em Coimbra um teatro com uma programação cultural de relevo.

Costuma viajar? Para onde? Férias ou trabalho? Como decide as escolhas?

Neste momento viajo menos em trabalho, já que o meu contrato é exclusivo, o que me obriga a estar em Londres a maior parte do tempo [Lara Martins-Pollet integra o elenco de “O Fantasma da Opera”, no Her Majesty’s Theatre, baseado num romance do francês Gaston Leroux, já considerado o segundo mais bem sucedido musical de sempre no West End de Londres, depois de “Les Misérables”]. Mas houve uma altura em que as viagens eram constantes, passava mais tempo fora que em casa. Em lazer costumamos escolher destinos exóticos, de preferência sem teatros!

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