Opinião – Rosetta

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Norberto Pires

Norberto Pires

 

A missão da nave espacial Rosetta ao cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko, iniciada há 10 anos atrás, está agora na sua fase principal. Ontem aproximou-se a somente 100 km da superfície do cometa estabilizando a sua velocidade com a do cometa. Nas próximas semanas fará manobras (trajetórias triangulares) primeiro a 100 km de distância e depois a 50km, antes de tentar uma órbita circular em torno do cometa a uma distância de 30km (esta manobra depende da atividade do cometa). A partir daqui, observando e selecionando até 5 locais possíveis, será tentado o contato com a superfície do cometa, lançando a sonda Philae para observação direta da sua constituição. Esta operação deverá ocorrer a 11 de Novembro deste ano. A nave espacial Rosetta permanecerá em órbita do cometa até pelo menos Agosto de 2015, na aproximação do cometa ao sol, fornecendo dados de grande valor científico sobre o funcionamento de um cometa à medida que ele circunda a nossa estrela.

Quer a nave espacial Rosetta quer a sonda Philae são verdadeiros laboratórios espaciais pois estão equipados com todo o tipo de instrumentação científica: espectrómetros de raios-X, câmaras de elevada resolução para documentar todos os momentos no cometa, sensores para estudar a estrutura interna do cometa usando ondas rádio, analisadores de gás, sensores para estudar a densidade, assim como as características térmicas e mecânicas da sua superfície, sensores para estudar o respetivo campo magnético, capacidade para fazer furos na superfície, recolher amostras e fazer análises químicas do material constituinte do cometa, sensores para estudar e mapear o rasto deixado pelo cometa na sua louca e veloz viagem, sensores para estudar a sua atmosfera, entre muitos outros. Muitos destes instrumentos estão presentes na nave espacial Rosetta e na sonda Philae, pois ambos farão trabalhos independentes e complementares.
Esta é também uma missão multinacional unindo vários países europeus e americanos, sendo coordenada pela Agência Espacial Europeia (ESA). É, de facto, um excelente exemplo de ciência e de cooperação internacional.

Ontem, ao ouvir os cientistas responsáveis pela missão, naturalmente muito satisfeitos com o que já foi conseguido, registei frases de elogio ao investimento em ciência e tecnologia como forma de descobrir e explicar aquilo que não sabemos explicar, e com isso, com o conhecimento gerado, melhorar o mundo e as nossas condições de vida. Um deles dizia inclusive que essa é a nossa missão, como seres humanos; somos exploradores do conhecimento com o “vício” da curiosidade e do engenho impregnado na nossa mais profunda essência. Com essa ideia em mente, estamos conscientes que não há nada que, com o devido tempo, não consigamos fazer, saber e explicar. E essa consciência, essa percepção do enorme poder da ciência e da nossa capacidade técnica baseada em conhecimento, é talvez a maior fonte de esperança que temos no futuro e a razão de não nos sentirmos sozinhos neste imenso universo. Estava a pensar nisto e a ser bombardeado pelas notícias caseiras relativas à escandaleira que envolve o caso BES/GES/BANCO BOM/BANCO MAU e à enorme falha que voltamos a verificar nos mecanismos de regulação e supervisão do sistema bancário e financeiro. Conseguimos enviar robôs para marte, fazer aterrar sondas em cometas, enviar naves para fora do sistema solar e descobrir aquilo que até há muito pouco tempo era impensável sequer imaginar, mas não somos capazes aqui na terra de manter as contas certas, de monitorizar simples transferências de recursos financeiros, de detetar fraudes e de punir os responsáveis. E digo simples sabendo bem o que estou a dizer. Querem comparar a complexidade entre a missão Rosetta e o sistema bancário/financeiro? Ah! Pois, no segundo caso há crime, falta de vergonha, desonestidade, mentira, corrupção e uma enorme falta de vontade de moralizar. Como diz a minha filha “Otey, percebido”.

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