Opinião – Trigo limpo, farinha (de)amparo

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Lucilio Carvalheiro

Lucilio Carvalheiro

Embora admita que seja talvez um pouco pedante insistir na distinção entre a função do Estado e a das empresas, sobretudo porque lança luz sobre a economia e sobre a política em geral, refiro os factos, porventura mais humorísticos do que escandalosos, de os palhaços financeiros serem levados a sério, e de se terem tornado objecto de uma espécie de culto, de estudos solenes, e de provas de exame (Troika), ainda por cima.

Sem dúvida que o caso BES reforça que o histerismo financeiro continua a ser o fertilizante a que o totalitarismo actual deve o seu rápido crescimento.

É que para aqueles que sucumbem sob tensão não há qualquer saída, a não ser o refugio interior de alienação mental, que, nas actuais circunstâncias prepara o terreno e educa a “intelligência” política na desonestidade intelectual com todas as consequências de irregularidades, desvios, fraudes, enganos, embustes.

E assim é; é-nos mesmo indicado o modo como esse fim é alcançado; a primeira dessa etapa é o despotismo orçamental, a segunda conquista é rotolando tal prática de responsabilidade, e a terceira, a mais elevada, é o sistema bancário (financeiro/mercados), que naturalmente aparece como o “soberano absoluto”.

Na verdade, é esta a fonte da imensa autoridade – torrente palavrosa dos “economistas formatados” ( não confundir com “formados” ) – que não nos leva longe; neles a arrogância aumenta na razão directa da deficiência de pensamento e na razão inversa dos Serviços do Estado a prestar ao bem-estar humano.

Assim, o que tem sido válido para a prática política é igualmente válido para a teoria política de que fazem uso: do mesmo modo que se opõem ao humanitarismo, também se opõem à liberdade onde a consciência de cada um de nós deve ser substituída pela obediência cega a um credo político servil.

Pois bem. Perante uma população aterrorizada, que soçobra sob a tensão de privações e de perigos incríveis, que se sente indefesa, como que presa na armadilha de um mundo financeiro hostil contra o qual não há defesa, haverá que convir que devemos libertar-nos da superficial mediocridade política que nos oprime.

A este respeito, de facto, tiro proveito para apoiar (votar) em António Costa nas “primárias” no Partido Socialista, porque, como diz o Povo amargurado “Trigo limpo, farinha (de) amparo.

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