Nuno Oliveira: “Candidatura é um imperativo no atual momento ”

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06 NUNO OLIVEIRA LC  (31)

Que motivações o levaram a apresentar esta candidatura?
A firme convicção de que é possível fazer melhor, a necessidade urgente de combater o processo acelerado de descaracterização da instituição, a imprescindibilidade de apresentar um projeto desportivo sustentado, coerente e rigoroso, a vontade de voltar a trazer os sócios e adeptos para dentro da Académica e, acima de tudo, uma ideia de coerência, face àquilo que já vimos defendendo há alguns anos, agravado pelo processo da SDUQ e que teria de ter obrigatoriamente continuidade.

Reunidos os requisitos que eu próprio coloquei para avançar, juntaram-se todas as condições e esta candidatura, mais do que uma alternativa, é um imperativo no momento atual da vida da Académica.

O que o distingue de José Eduardo Simões e do seu projeto para a Académica?
Neste momento não conheço, sequer, o projeto de José Eduardo Simões. Desse ponto de vista distingue-nos quase tudo. Não vi esse projeto em lado nenhum e também gostava de o perceber.

As diferenças são tantas… mas o que nos distingue efetivamente é o projeto e é nisso que os sócios se devem focar.

Temos um projeto virado para os sócios, para a formação, para o crescimento da instituição assente no aumento do número de sócios, na exploração da marca Académica e num projeto desportivo com uma política diferente, que não privilegie empréstimos e a vinda de jogadores do Brasil em catadupa. E ainda uma ideia de coerência e transparência.

Se ganhar, qual será a sua primeira medida de gestão?

A primeira medida passará por tomar conta da equipa de futebol profissional, porque, uma vez mais, chega ao final da época completamente arrasada. Neste momento não há uma espinha dorsal na equipa e isto tem sido recorrente. Tenho de preparar a equipa para uma época exigente, que queremos muito ambiciosa e com resultados desportivos.

Gostava que não fosse essa a primeira medida e preferia chegar com a certeza de que a época já está preparada e que a equipa já tem uma base sólida, para, por exemplo, nos dedicarmos já a outras áreas, como o aumento de número de sócios e adeptos. Como isso não é possível, a primeira preocupação terá de ser ter tudo preparado para que em julho se comece a preparar a equipa.

Um dos temas fortes da sua candidatura é a internacionalização da Académica, aliás, tema que José Eduardo Simões também vincou. O que é isto da internacionalização e porque é uma prioridade?
Soubesse que José Eduardo Simões iria também pegar nalgumas das ideias que tinha avançado, teria todo o gosto em enviar-lhe o programa, para que ele pudesse pegar nas ideias e divulgá-las no site [do clube], que tem estado ao serviço da sua candidatura.

A nós nem o site foi facultado para introduzirmos o programa eleitoral, porque, por ventura, isso introduziria uma desigualdade, já que a Lista A não tem programa.

A internacionalização é uma inevitabilidade, em função da grandeza e dimensão da Académica. Este processo de crescimento da instituição assenta em três eixos fundamentais e um deles passa pela exploração da marca. Somos uma instituição de dimensão nacional e internacional, como pouquíssimos clubes.

O que pretendemos é reforçar a nossa dimensão nos países de expressão de língua portuguesa, onde a paixão pela Académica continua viva, mas absolutamente inexplorada. O facto de termos já começado a fazer contactos e a designar embaixadores para fazer essa ponte tem dois objetivos: pretendemos pessoas com credibilidade, passado no desporto e na Académica, que nos permitam fazer protocolos com escolas de futebol nesses locais. Por outro lado, o reforço da presença da Académica permitirá a criação de casas da Académica ou de núcleos, para que sejam, aí também, polos de atração de novos sócios e até de investimento.

Assume a importância dos sócios e adeptos. A que se deve o afastamento que se tem visto no estádio?

O afastamento não pode ser explicado apenas pela crise económica. Esta direção nem com jogo gratuitos consegue trazer gente.
Isto deve-se a um processo grande de descaracterização da Académica e ao facto de as pessoas não se reverem na forma de liderança da instituição.

A uma direção exige-se que seja agregadora e a atual tem sido separatista, a dividir para reinar. Veja-se a Associação Académica de Coimbra (AAC). Neste momento, é raro termos estudantes no estádio e há que fazer alguma coisa. Isso só será possível com uma nova direção e uma nova filosofia. Quero uma parceria estrutural e que, de uma vez por todas, a academia saiba que o OAF quer que esteja connosco e que nós estamos com eles.

Ouço muitas vezes José Eduardo Simões falar que a Académica perde pontos por causa do estádio. Mas perde pontos é por o estádio estar vazio. Se conseguíssemos ter lá 15 mil, ganhávamos pontos. É mais uma falácia. José Eduardo Simões transforma uma incapacidade evidente de mobilização – e por isso falo no fim de um ciclo – na constatação de que a culpa é do estádio.

De que forma se podem atrair mais sócios e espetadores?
Temos três vetores essenciais. Com a AAC, propomos a criação de uma bancada que lhes seja afeta em exclusivo, a que designámos “Bancada Capas Negras”, que terá como objetivo que a própria direção-geral proceda à comercialização dos bilhetes, sendo que recebem parte da receita.

É uma forma de os envolver no projeto, porque quantos mais estudantes estiverem mais a AAC irá receber, mas também mais receberá o próprio OAF. E, com isto, propomos também resolver parte das dívidas do bingo.

Depois, queremos criar uma rede com restaurantes, cafés, empresas, etc., em que cada uma delas fica responsável pela compra de bilhetes. E ainda um conjunto de protocolos junto das câmaras municipais. Temos de ir para a cidade e para a região e voltar a trazer as pessoas. Costumo dizer que o nosso maior capital é o humano. E temos de o recuperar urgentemente, o que, manifestamente, este presidente e esta direção nunca irá conseguir.

Para além do capital humano, que apoios financeiros sustentam este seu projeto?

Antes de avançar para esta candidatura defini dois pressupostos. Primeiro, reunir uma equipa credível, experiente e motivada em que os sócios se revissem. E isso foi conseguido. Em segundo, a questão financeira é fundamental. Só avancei com a candidatura depois da confirmação dos patrocinadores que, a partir do dia 31, trabalhariam com qualquer direção. Posso dizer que o dinheiro que entra hoje na Académica entrará amanhã.

A minha preocupação a partir da altura em que tive essa garantia e do conhecimento que tenho dos contratos que estão em vigor, e que se manterão, é trabalhar um projeto para fazer crescer as receitas da Académica.

E isso passa pelo crescimento das receitas ordinárias, por exemplo, com o aumento dos sócios, receita que terá de ser trabalhada a sério. E um aumento de receitas extraordinárias, fruto do aumento da exploração da marca Académica.

Queremos também desenvolver uma política desportiva que não nos obrigue a ter 15 a 20 jogadores diferentes todas as épocas, 200 jogadores novos em 10 anos, que não passe por trazer jogadores só de um ou dois clubes do Brasil e que privilegie um projeto a médio prazo, para que possamos ter rentabilização desportiva e financeira das maiores mais-valias de um projeto desportivo, os jogadores, o que tem sido desconsiderado.

É possível ter uma equipa mais ambiciosa e mais competitiva?

Claro que sim, mas não dentro deste modelo que tem sido seguido.

José Eduardo Simões tem trabalhado muito pela Académica, mas uma das suas características é de uma incoerência a toda a prova. Há vários exemplos e um deles tem a ver com a gestão desportiva. O engenheiro critica os empresários desportivos, mas depois não defende a instituição no momento da contratação.

Nós teremos um departamento de prospeção para que, no momento da contratação, sejamos rigorosos e cirúrgicos, sem estar permanentemente dependente dos empréstimos, identificando mais-valias, por exemplo na Liga de Honra, ou no Campeonato Nacional de Juniores, onde há inúmeras mais-valias. Isto cria condições para, dentro do mesmo orçamento, ter melhores jogadores.

Que comentário lhe merece a saída do Sérgio Conceição?

Se fosse direção e o Sérgio não renovasse, encararia isso como um falhanço de todo o tamanho. É a prova do insucesso, também ao nível do projeto desportivo. Porque se este fosse sólido, ele ficaria.
Acho que as responsabilidades todas recaem sobre a atual direção e os sócios têm toda a legitimidade para pedir explicações.

São poucos os jogadores que se mantêm desta temporada para a próxima. Os alvos estão já definidos?

Tenho agido como acho que deve agir o presidente de uma instituição. Todos os dias me contactam empresários para apresentar jogadores. Mas quero dar uma prova de maturidade e de visão e experiência aos sócios. Seria incapaz de contratar um jogador para a Académica sem antes perceber qual o orçamento e sem saber o que o treinador quer.

E aquilo que José Eduardo Simões tem demonstrado é que não aprende com os erros. Isso, para mim, é o mais grave.

Dos profissionais para as promessas, que projetos tem para a formação?

A formação é um dos maiores desafios. Custa-me ver que tem sido completamente relegada para segundo plano nos últimos anos. Ouve-se falar da academia como ex-líbris da instituição, mas, se olharmos para o que se passa por dentro, isso deve preocupar qualquer sócio. Não tem produzido talentos e, nos últimos anos, apenas o Flávio se afirmou.

Os resultados ao nível das camadas jovens também não têm sido de acordo com as infraestruturas da Académica.
Temos treinadores e seccionistas com 10 salários em atraso, e estamos a falar de valores de 200, 300, 400 euros/mês.

O que queremos para a instituição é uma aposta forte para a formação. Desde os seus quadros humanos às infraestruturas. Quero os melhores a trabalhar na Académica.

Para isso é necessária uma rede de protocolos com vários clubes da região. Porque a Académica tem a possibilidade, mas também o dever de atrair atletas que queiram continuar os seus estudos. Tem o dever de continuar a promover o atleta-estudante na formação.

Queremos formar atletas, mas também homens e cidadãos. Nós privilegiaremos a formação e isso é outro aspeto que nos distingue. Sabemos que a atual direção não acredita na formação e prefere, por ventura, apostar em protocolos com escolas da Costa do Marfim sem que se perceba muito bem que é que beneficia com isso.

Temos como responsável pela formação uma pessoa exemplar no percurso que teve na Académica, o Orlando.
Sei do seu conhecimento da instituição e do projeto que tem e, portanto, tenho a certeza que, com a equipa que iremos formar para a instituição, vamos colher frutos a breve trecho.

Outras das apostas assumidas é o futsal. A saída do OAF foi um erro?

Essa é mais uma das grandes incongruências de José Eduardo Simões, que agora diz que quer uma Académica dos sócios e para os sócios, mais uma cópia do nosso projeto. Mas ele nunca o poderá defender.

Foi ele que defendeu uma SAD, isto depois de, em 2004, ter dito numa entrevista que, com ele SAD nunca.

Para ter uma Académica dos sócios é preciso não violar sistematicamente os direitos dos sócios e os estatutos. E o que assistimos recentemente foi uma violação grosseira dos estatutos, com a cessação de uma modalidade desportiva sem a aprovação dos sócios.

O futsal não devia ter saído da Académica e disse, na altura, que estaríamos provavelmente a condenar a Académica à descida de divisão e que, por ventura, se nada fosse feito, o futsal poderia acabar.

O tempo, infelizmente, veio dar-me razão. Ouço muitas vezes falar no rigor orçamental da Académica, mas o futsal tinha um orçamento de 120 mil euros. Pratiquei futsal durante 20 anos e sei que é um centro de custos, mas é possível ter uma equipa com orçamento inferior e o nosso objetivo é assegurar a prática do futsal em todos os escalões de formação e que a equipa sénior esteja, no imediato, em condições de competir e de se manter na 2.ª Divisão.

A médio prazo queremos uma equipa com capacidade para lutar por algo mais, mas alimentada pela formação.
Qundo o futsal acabou no OAF não tinha, na sua equipa, nenhum dos jogadores que foram campeões nacionais de juniores uns anos antes. Isto prova que, também ao nível do futsal, não foi seguida uma política desportiva e orçamental rigorosa.

A Liga tem de proteger mais os clubes “pequenos”?

Tenho a certeza que sim e a Académica tem um papel fundamental na necessidade de implementação de mecanismos tendentes à promoção do futebol enquanto espetáculo, à maior transparência do futebol enquanto negócio e no assegurar de alguns meios para que não haja uma décalage tão grande entre os clubes de topo e os outros. Nós assumimos esse compromisso.

Relativamente às eleições na Liga não me quero pronunciar. Confesso que é com alguma surpresa que vejo também do atual presidente, futuro ex-presidente da direção da Académica, o facto de “ontem” ter sido um entusiasta da candidatura de Mário Figueiredo e hoje ser um entusiasta da linha da frente da sua destituição. Era importante perceber o que mudou. O que posso garantir aos sócios é que eu, enquanto presidente da instituição, nunca serei a voz de ninguém que não dos sócios da Académica.

O relacionamento da Académica com as instituições da cidade pode ser melhorado?

Melhorar não é difícil, porque chegámos a um ponto em que qualquer coisa que se faça melhorará o relacionamento institucional. Basta dar um exemplo: há poucos meses esteve iminente o corte de relações institucionais com a AAC. Por isso, tive oportunidade de dizer ao presidente da AAC que, 30 anos depois do regresso do Clube Académico de Coimbra à AAC, também nós podemos fazer história.

Neste momento, está tudo por fazer. O que tivemos oportunidade de transmitir à AAC, à universidade e à câmara é que assumimos o compromisso do OAF de participar num projeto desportivo comum para a cidade. Evidentemente que as instalações que temos ao nosso dispor têm de fazer parte desse projeto. Não sei qual é o projeto do eng.º Simões para o Pavilhão Jorge Anjinho, não sei sequer se é um projeto desportivo. Custa-me ver o pavilhão, depois de 10 anos de sucessivas promessas, no estado em que está.

Nós assumimos um conjunto de compromissos que queremos desenvolver com a AAC e a melhoria dessas relações passa por haver compromissos. Demos já vários sinais: primeiro, a questão da bancada, que é apenas o início de um processo; a questão do pavilhão, que queremos esteja também disponível para as secções da AAC e a proposta, aos sócios, de criação de um terceiro equipamento, alternativo. É uma forma de envolver os antigos estudantes, captá-los e, indiretamente, estamos também a recuperá-los para dentro da Académica. É também uma forma de captação de novos sócios, sendo que parte da receita será dividida com a AAC, numa exploração conjunta da marca. Mas isto, repito, caso seja essa a vontade dos sócios da AAC/OAF.

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