Opinião – POE – O pecado “original” europeu

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GIL PATRAO novoGil Patrão

Ao oitavo dia da grande União de recente criação, o Grande Chanceler teve uma visão! Reuniu o Grão-mestre e os lacaios e a todos proclamou: “Vamos abrir os mercados, mergulhar no espaço global, dominar o Oriental e satisfazer a procura que no Mundo está por acontecer!”

Disse o Grão-mestre: “Mas o que fazer à indústria caseira, que só dá trabalho e canseira à gente europeia?! Poderemos nós competir com os salários a aumentar, os sindicatos a atazanar e o ambiente a gritar, ou melhor não será deslocalizar e desindustrializar?”

Ripostou o Chanceler: “Vamos mas é fortalecer a moeda e comandar as finanças. Vender caro o carrão e o know-how, pois então! Em troca compraremos barato não só o fato, mas também o alicate e tudo o mais de que na Europa houver precisão.”

“Evitaremos tanto ardor e suor ao pessoal!”, apressou-se a corroborar o Grão-mestre, ao que respondeu, por má compreensão, o Grande Chanceler: “Mais direitos do pessoal? Com tantos privilégios, têm tantas mordomias que já nem fazem horas extra! Como iríamos competir?! O melhor será começar a dispensar, distribuiremos uns cêntimos e ganharemos uns milhões… O que dizem os lacaios? Não acham bem? Pensam que não é cristão?!…

Pois não sou eu o Grande Chanceler a quem devem obedecer? Não me aborreçam, então! Sempre podemos dar formação e fazer na Europa a Grande Reconversão. Se vendermos bens que não são transacionáveis, evitaremos a confusão da grande competição! Que dizem agora?

Ah! Os desgraçados do Sul! Mas que grande aborrecimento! Quem os mandou armarem-se em tubarões?! Não perceberam que, no Grande Mar das Oportunidades, nunca serão arenque ou salmão, mas cavala e mexilhão?! Remédio não há nem haverá! Temos de cavalgar a onda da oportunidade. Quem não se aguentar terá de penar, para se ajustar à passada da procissão!”…

“Dizes que precisam de dinheiro?! Para quê, Grão-mestre, posso saber? Para pagar o que comer?! Espera aí, que nisso podemos ajudar! Como?! Simples! Basta emprestar e altos juros cobrar! Digamos que faremos dois em um! Venderemos máquinas sofisticadas ao Oriente e cobraremos preço e comissão. O que cobrarmos, emprestaremos aos do Sul e a outros pobres Ocidentais. Claro que a todos cobraremos alta comissão! Então não estamos em União?! “…

“Sem mais trabalho, como pagarão?! Oh! Diabo, que nisso não tinha pensado! Não chega o que tinham amealhado?! Não poderão pedir mais emprestado? O quê?! Já nem nós temos o que emprestar?! A quem irão então pedir?! Olha lá, os desgraçados que faziam o fato por um tostão, que de tanto moldar o alicate aprenderam a afiar a tesoura, e que agora nos pedem meças, não terão um tostão para na Europa do Sul investir?! Não acreditam nessas empresas? Comprem rendas e então, como nós, garantidos ficarão!” …

“Perguntas que mais poderei fazer?! Mudar de vida e de canção?! Só sob a minha batuta e se a partitura me agradar! Criar um Mundo Novo dá tanta canseira que até causa comichão, pelo que mereço alguma compensação! Achas que não?! Pretendes continuar Grão-mestre?! Arranja então forma de embrulhar o pacote e vende lá o produto. Sei lá se é complexo! Nunca ouviste falar de swaps?! O que interessa é que comprem agora! Sofrem muito para pagar?! Pois então que sejam os filhos, netos e bisnetos que depois nos pagarão!” E assim aconteceu!

 

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